Instituto de Cidadania divulga nota de repúdio por abordagem policial a homem negro

 Alessandro Emergente

O Instituto de Cidadania e Direitos Humanos (ICDH) publicou uma nota de repúdio devido a abordagens a um homem negro, que não tem passagem pela polícia. Uma abordagem pública, considerada constrangedora pelo ICDH, foi realizada no último dia 7 no estacionamento de um supermercado, no bairro Jardim Aeroporto, em Alfenas.

Em nota, o 64º Batalhão da Polícia Militar informou que, no último dia 7, o fisioterapeuta Marcelo Silva de Carvalho foi confundido com um suspeito, que costuma reagir as abordagens policiais. A PM negou excessos na abordagem e disse ter seguido os parâmetros técnicos para esse tipo de ação.

O fisioterapeuta é ex-professor e membro do Rotary Norte Alfenas. Segundo relato, divulgado pelo ICDH, ele tem sido frequentemente vítima de abordagens policiais na cidade. O caso mais grave teria ocorrido por volta das 20h de um domingo, no dia 7 de janeiro. Na ocasião, ele estava com a esposa e a filha, de 9 anos, dentro do supermercado e foi abordado ao deixar o estabelecimento.

De acordo com o ICDH, o fisioterapeuta foi abordado por PMs armados com tasers diante de várias pessoas, a cerca de três metros da entrada do supermercado. Além de três policiais que faziam a abordagem, uma outra viatura se deslocou até o local, o que, segundo o fisioterapeuta, fez com que a situação se tornasse ainda mais constrangedora.

Na frente da filha

Na nota, o Instituto enfatiza que toda a abordagem foi na frente da filha do fisioterapeuta. Em um dos momentos, segundo o ICDH, um dos policiais teria dito, na frente da criança, que Carvalho seria o suposto criminoso procurado. “A angústia e o pavor persistiram até o último instante da abordagem, sendo que a filha do representante passou mal diante da situação bizarra, pois a menina não fazia ideia do estava acontecendo”, diz a nota.

O ICDH cita que Carvalho foi abordado em várias ocasiões. Em uma delas, teria sido surpreendido na porta da casa de sua mãe sob a acusação de furto. Em outra abordagem, segundo o Instituto, o fisioterapeuta estava ao lado de um amigo branco, mas foi o único submetido a revista. “Além disso, foi perseguido pela polícia enquanto dirigia seu carro, sendo parado várias vezes, inclusive pilotando o veículo de sua esposa”, afirma a nota.

O Instituto classificou a abordagem como racismo estrutural. “Ações nesses moldes, sem justificativas, mostra total despreparo dos policiais e desrespeito aos direitos fundamentais do cidadão garantidos pela nossa Constituição Federal”, diz o ICDH.

Outro lado

A PM, em nota assinada pelo tenente-coronel André Luís da Silva (comandante do 64º BPM), diz que o único registro de abordagem ao fisioterapeuta, além do ocorrido no dia 7 de janeiro, foi em julho de 2019, quando os policiais o observaram saindo de um lugar ermo durante a madrugada.

Em relação a abordagem do dia 7 de janeiro, a PM confirma que Carvalho foi confundido com um suspeito, acostumado a reagir as abordagens policiais, o que justifica o envio de reforço de uma segunda viatura até o local. Havia informações, segundo a PM, de que o suspeito estava no estabelecimento comercial, mesmo local onde estava o fisioterapeuta.

A PM diz que os procedimentos adotados durante as abordagens condizem com o conjunto de ações policiais para averiguação sobre a veracidade de denúncias. Essas condutas são adotadas com base em manuais técnicos-profissionais e em procedimento operacional padrão.

De acordo com a PM, as atuações policiais - tanto em 2019 quanto no último dia 7 - estiveram revestidas de legalidade, legitimidade, razoabilidade e proporcionalidade no uso da força. "Convém ressaltar que as fundamentações para as abordagens e buscas pessoais diante do Sr. Marcelo, em momento algum, basearam-se na cor ou na origem étnica desse conforme argumentação precedente”, afirmou a Polícia Militar na nota.

>>Clique aqui e lei a nota do ICDH na íntegra


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