Postado em sexta-feira, 2 de setembro de 2022
às 15:05
O futuro da arquitetura: edifícios construídos a partir de materiais vivos
Você consegue imaginar um mundo em que o ambiente construído ao nosso redor seja impresso em 3D a partir de materiais vivos? Que os edifícios irão germinar, florescer, murchar, produzir novos tipos de materiais, e eventualmente retornar ao solo? To Grow a Building é um laboratório performativo que imprime em 3D - em tempo real - uma estrutura ao vivo. O projeto apresenta uma nova abordagem para integrar a flora no processo de arquitetura, desenvolvendo um novo material para impressão 3D, através do qual a semeadura é parte inseparável do processo de fabricação. Crescer um edifício é uma porta para um mundo futuro onde algumas pessoas constroem e outras cultivam os edifícios.
Na Jerusalem Design Week 2022, os designers Elisheva Gillis, Gitit Linker, Danny Freedman, Noa Zermati, Adi Segal, Rebeca Partook, Or Naim e Nof Nathansohn imaginaram a possibilidade de um mundo em que os edifícios fossem impressos em 3D a partir de materiais orgânicos. Neste laboratório performático ao ar livre apresentado nos terrenos da Hansen House e apoiado pela Rogovin, uma empresa que promove a inovação ecológica no campo imobiliário, um braço robótico feito sob medida construiu pequenas estruturas utilizando uma mistura de terra e sementes.
Conectado ao computador do robô, cada projeto estrutural foi construído pelo braço robótico de uma maneira sistemática, quase hipnotizante. Após a conclusão, as estruturas adotam vida própria: as sementes brotam, cobrindo o solo com uma vegetação exuberante, e as raízes se entrelaçam dentro dele.
Ao invés de edifícios feitos de concreto e aço, o projeto sugere uma arquitetura que utiliza à terra e as raízes locais como elementos estruturais. À medida que o mundo enfrenta uma crise ecológica, o uso de recursos industriais e não locais só aumenta.
A décima primeira edição da Jerusalem Design Week recebeu mais de 40.000 visitantes ansiosos para a Hansen House Center for Design, Media, and Technology. O principal evento de design de Israel, a Jerusalem Design Week, apresentou uma mistura eclética de exposições, instalações e projetos, de mais de 150 designers israelenses e internacionais. Criado especialmente para o tema ´For Now´, o trabalho de designers convidados explorou tanto a efemeridade do projeto quanto o design da efemeridade. A JDW analisou como o tempo pode ser aproveitado para produzir um efeito positivo em períodos de incerteza.
Apesar de ter sido apresentada durante a JDW este ano, o conceito de impressão 3D a partir de materiais vivos também foi explorada através de outros projetos. Localizada em Massa Lombarda (Ravenna, Itália), Mario Cucinella Architects e a Wasp, empresa italiana líder em impressão 3D, já haviam concluído a primeira casa impressa em 3D a partir de terra bruta usando um processo chamado TECLA (tecnologia e argila).
TECLA é um modelo inovador de habitação circular que reúne pesquisas sobre práticas de construção vernacular, o estudo de princípios bioclimáticos e o uso de materiais naturais e locais. É um projeto com emissões quase nulas: seu invólucro e o uso de um material totalmente local permitem a redução de resíduos e sucatas. Isto e o uso de terra bruta fazem da TECLA um exemplo pioneiro de habitação de baixo carbono.
Além de combinar o uso do solo, sementes e terra bruta com a tecnologia de impressão 3D, a possibilidade de usar micélio no processo de construção também tem sido fortemente considerada e explorada nos últimos anos como um material de construção potencial. O micélio é um material natural de fungos que é orgânico, compostável e biodegradável, com resistência a nível industrial que poderia ser usado como blocos de construção para futuras casas.
O Living explorou o uso do micélio no processo de construção através de seu projeto vencedor no Programa Jovens Arquitetos do MoMA PS1 de 2014, o Hy-Fi. O projeto foi a primeira grande estrutura a ser feita com este novo material, com tijolos orgânicos aproveitando o incrível ´algoritmo biológico´ das raízes de cogumelos, ajustando-o para fabricar um novo material de construção que cresce em cinco dias, sem desperdício, sem entrada de energia e sem emissões de carbono.
Imaginar um futuro em que a arquitetura que nos cerca seja totalmente construída a partir de materiais ecológicos não parece tão distante à luz dos avanços tecnológicos que testemunhamos na última década. Cada vez mais encontramos uma arquitetura que vive e respira, assim como nós, crescendo, evoluindo e mudando para se ajustar ao molde do que o futuro do cenário arquitetônico precisa: sustentabilidade e inovação, e que melhor maneira de começar do que com os blocos de construção do ambiente construído.
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