Postado em quinta-feira, 28 de julho de 2022 às 20:08

Estudo identifica as dificuldades enfrentadas por idosos em tempos de pandemia

Medidas sanitárias como ficar em casa e usar máscara foram apontadas como as adaptações mais difíceis.


 Da Redação

Estresse, tensão, ansiedade e depressão. Essas são algumas das respostas físicas do organismo observadas durante a pandemia de covid-19, para além de quem foi infectado pelo coronavírus. Entre as pessoas idosas, a identificação de sobrecarga mental motivou um estudo que rastreou as principais dificuldades enfrentadas por esse grupo nos tempos de pandemia. A pesquisa foi desenvolvida por pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGENF) da Unifal (Universidade Federal de Alfenas).

“O motivo principal dessas situações enfrentadas pelas pessoas idosas teve como principal fator o ato de ficar em casa”, explica o pesquisador José Vitor da Silva, professor visitante do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGENF) da Unifal e coordenador do estudo. Segundo ele, ao serem orientadas a ficar isoladas em casa, as pessoas idosas deixaram de realizar diversas atividades em comunidade, como ir ao banco, fazer compras, participar de cultos religiosos e visitar familiares.

Para entender de que forma a nova realidade afetou nas adaptações cotidianas dos idosos, o grupo de pesquisa utilizou a entrevista semiestruturada como técnica não focada em amostra, mas na representação dos dados, a fim de investigar quais foram as principais dificuldades encontradas. O público-alvo foi selecionado de forma aleatória considerando idosos na faixa etária de 66 anos ou mais residentes nas cidades sul-mineiras de Itajubá, Alfenas, Pouso Alegre e Poços de Caldas, e do interior paulista, como Taubaté e São José dos Campos.

O perfil sociodemográfico dos entrevistados apontou que 75% eram do sexo feminino; 40% eram casados; 60% tinham um trabalho informal; 85% residiam em casa própria e 60% percebem sua saúde como boa.

“As principais dificuldades enfrentadas pelas pessoas idosas foram: ficar em casa; não poder trabalhar; falta de convívio familiar e social; uso de máscara; uso do álcool em gel e medo de contrair a doença e da morte”, detalha o coordenador do estudo. Desses fatores, o que teve maior impacto para os entrevistados foi a necessidade de ficar em casa. Cerca de 60% apontaram essa medida sanitária como a mais difícil. Outros 25% indicaram o uso de máscara como a nova adaptação mais embaraçosa e 10%, o uso de álcool em gel.

Ficar em casa

O pesquisador argumenta que o tempo indeterminado de utilização das medidas sanitárias de prevenção, principalmente ficar em casa, foi a mais insistente por serem as pessoas idosas consideradas grupo de risco. “A frequência cada vez mais exigida dessa atitude levou esse grupo de pessoas à sobrecarga mental diante dessa ‘exigência’, que foi atenuada com o advento das vacinas”, diz.

De acordo com Silva, os resultados do estudo contribuem para compreender o comportamento das pessoas e, consequentemente, orientar a atuação dos profissionais de saúde. “Em vez de dar a ordem ‘ficar em casa’ seria importante estabelecer orientação sobre o que e como utilizar a permanência em casa de forma sistemática”, explica. “O ato de ficar em casa, por si só, sem suas consequências seria o suficiente para as pessoas idosas. Não se consideraram consequências advindas desse comportamento do isolamento social”, acrescenta.

No que diz respeito ao ato de ficar em casa, o pesquisador pontua: “Isoladamente esse comportamento trouxe sérias consequências como violências, agressões, retorno ao alcoolismo, aumento do número de suicídio, descontrole das doenças crônicas por absenteísmo ao controle médico e outros. O retorno do convívio social também traz sérias consequências às pessoas idosas, pois, no momento, sentem medo de voltar à situação do convívio social.”

O levantamento também mostrou que uma parcela da população idosa do estudo se posicionou contra à prática de ficar em casa e do uso da máscara por não saber até quando teriam que se manter assim, o que na opinião dos autores, pode ser uma dificuldade para a qual políticas de saúde precisam ser implantadas. “Torna-se necessário atender necessidades de saúde mental, e que práticas esclarecedoras de prevenção sejam difundidas, sistematizadas e ajustadas às necessidades das pessoas idosas”, enfatiza.



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