Postado em quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Covid-19: quais os principais sintomas neurológicos e neuropsiquiátricos?

A Covid-19 não respeita fronteiras. Essa afirmação pode ser exemplificada por dados que demonstram a ampla capacidade de disseminação do SARS-CoV-2 pelo globo, como os apresentados pela Johns Hopkins University.


 Justamente por afetar a todos, a noção de cooperação tem se mostrado tão necessária para o enfrentamento à pandemia, como no esforço conjunto pela busca de tratamentos e pelo desenvolvimento de vacinas contra a doença.

Outro exemplo da aplicação do trabalho colaborativo é a iniciativa do CoroNerve Group que investiga as características neurológicas da Covid-19 no Reino Unido por meio de uma rede de portais destinados à notificação de casos e voltada a especialistas e entidades das áreas de neurologia e psiquiatria. Os dados são coletados de forma a garantir o anonimato dos pacientes e incluem informações demográficas, geográficas e sobre a natureza da síndrome clínica.

Os resultados das três primeiras semanas de coleta foram publicados no mês de junho na revista The Lancet.

Sintomas neurológicos e neuropsiquiátricos da Covid-19
Os casos de Covid-19 foram classificados como definidos, prováveis ou possíveis:

Casos definidos: PCR positivo em amostra do trato respiratório ou líquor, ou teste sorológico para SARS-CoV-2 com IgM ou IgG postivos;
Casos prováveis: radiografia ou tomografia de tórax consistentes com Covid-19, mas com PCR e sorologia negativos ou não realizados;
Casos possíveis: suspeita clínica, mas com PCR, sorologia e imagem torácica negativos ou não realizados.
As síndromes clínicas reportadas foram classificadas como evento cerebrovascular, alteração do estado mental, neurologia periférica e outros. Para cada uma dessas classes foram estabelecidos critérios pré-definidos, bem como a possibilidade de atribuir mais de uma classe a um mesmo paciente:

Evento cerebrovascular: acidente vascular cerebral isquêmico, hemorragia intracerebral, hemorragia subaracnoide, trombose de seio venoso, vasculite cerebral.
Alteração do estado mental: encefalopatia, encefalite, convulsões, síndromes neuropsiquiátricas (psicose, síndrome neurocognitiva semelhante à demência, alterações de personalidade, catatonia, ansiedade, depressão, síndrome de fadiga crônica e estresse pós traumático);
Neurologia periférica: síndrome de Guillain Barré, síndrome de Miller Fisher, neuritebraquial, miastenia gravis, neuropatia periférica, miopatia, miosite, neuromiopatia do doente crítico;
Outros: para aqueles não correspondentes às classes anteriores.
Também foram tomadas medidas direcionadas a assegurar a veracidade dos dados informados, bem como possibilitar o seguimento longitudinal dos casos e permitir seu cruzamento com outras bases de dados.

Observações gerais
A distribuição temporal dos registros acompanhou a periodicidade dos casos de Covid-19 registrados pelas agências oficiais de saúde do Reino Unido;
Das 153 notificações foram analisados 125 registros (as comunicações incompletas forma excluídas);
Entre as 153 notificações recebidas 82% foram feitas por hospitais secundários;
Das 150 notificações com informação sobre a especialidade do notificante, 41% foram feitas por especialistas em acidente vascular cerebral, 26% por neurologistas, 15% por psiquiatras ou neuropsiquiatras, 23% por emergencistas ou outros especialistas, e 1% por clínicos gerais.
Sobre os 125 casos analisados:

Idade média: 71 anos;
Sexo: entre os 117 pacientes em que essa informação estava disponível 72,8% eram homens;
Diagnóstico de Covid-19: 114 confirmados, seis prováveis e quatro possíveis;
Síndromes neurológicas:

Foram identificados 77 casos de evento cerebrovascular, sendo mais frequente o acidente vascular cerebral isquêmico (57);
Foram apontados 39 casos de alteração do estado mental, sendo mais frequente as alterações neuropsiquiátricas (23) e entre essas, a psicose foi a mais frequente (10);
Foram notados seis (6) casos de comprometimento periférico, sendo mais frequente a síndrome de Guillain-Barré e suas variantes (4);
Forma descritos três (3) casos classificados como outros.

Conclusões
A interpretação dos resultados apresentados deve considerar a possível interferência de certos fatores, destacados pelos próprios autores: a unidade de origem dos casos (o que se relaciona a sua gravidade) e a predisposição dos médicos em fazer os registros (o que pode se relacionar ao tipo de síndrome clinica observada).

O trabalho alerta para as possíveis complicações neurológicas em pacientes diagnosticados com Covid-19; como também para o diagnóstico da infecção em pacientes com síndromes neurológicas e psiquiátricas agudas. Nesse contexto, os autores destacam a necessidade da colaboração interdisciplinar nas questões referentes à doença.

Por fim, convido o leito a conhecer duas iniciativas brasileiras relacionadas aos aspectos neurológicos da Covid-19. A primeira foi desenvolvida pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e consiste em um banco de dados que, assim como no caso inglês, também busca investigar manifestações neurológicas, disponível aqui. A segunda é uma publicação elaborada pela Universidade de São Paulo (USP) acerca do papel do neurologista no atendimento a pacientes com Covid-19.



 

 

 

 

 

 





Fonte: PEBMED



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