Postado em sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019
às 15:03
Escritor Waldir de Luna Carneiro morre aos 97 anos em Alfenas
O teatrólogo é autor de mais de 50 peças, além de ter escrito roteiros para o cinema e para a TV Globo.
Alessandro Emergente
Morreu, na manhã desta sexta-feira, aos 97 anos, o premiado dramaturgo Waldir de Luna Carneiro. O escritor faleceu em sua residência, vítima de um câncer.
Waldir escreveu, ao longo de sua carreira, mais de 50 peças de teatro, além de contos e roteiros para o cinema e para a televisão, como o Caso Verdade: “A Grande Promessa” em uma participação com o autor de novelas Walter Negrão, em 1982, para a TV Globo.
A comédia era o gênero predileto, mas o “Shakespeare de Alfenas”, como chegou a ser chamado em uma reportagem do jornal Estado de Minas em 2013, visitou também o drama e o teatro de protesto.
O talento do escritor foi reconhecido por nomes, que por si só, já o credenciaria ao integrar a lista de grandes nomes da dramaturgia mineira. De Carlos Drummond de Andrade, por exemplo, recebeu em uma carta as seguintes palavras: “Li com grande prazer e interesse a paróquia que habitamos. Na dedicatória diz que seria apenas goiabada caseira; delícia de goiabada, digo eu”.
Reconhecimentos
Em vida, foi reconhecido e homenageado diversas vezes pelo talento, tornando-se um ícone da literatura e do teatro alfenense. Tanto que, em 2008, a Prefeitura de Alfenas anunciou a publicação do primeiro volume da coleção o Teatro Completo, que reuniu boa parte de sua obra teatral. São 600 páginas que reúnem 50 peças. Na época, ele concedeu entrevista ao Alfenas Hoje onde comentou sobre a alegria de mergulhar nos livros.
O reconhecimento também pode ser percebido com a realização do Festival de Teatro Waldir de Luna Carneiro, com a remontagem de algumas peças escritas pelo teatrólogo. Em 2017, foi homenageado na abertura do Carnaval de Alfenas por artistas da cidade.
Ao longo de cerca de 60 anos dedicados ao teatro, Waldir de Luna Carneiro teve obras premiadas como a peça "Campina Grande", vencedora do prêmio de dramaturgia Nelson Rodrigues em 1985 e 1986. Em 2002, recebeu a Medalha da Inconfidência Mineira.
Outras peças - como "O Zebuzeiro", "A Represa" (Na Boca das Furnas), "Ao Terceiro Dia, Subiu", "Revolução em Campina Brava", "O Agiota", "Ao Terceiro Dia, Desceu" – também estão entre as obras do escritor.
Trajetória
Nascido em Santa Rita do Sapucaí em 1921, Waldir veio para Alfenas aos 17 anos acompanhando a família, que adquiriu o jornal Alfenense. De 43 a 44 anos foi para o Rio de Janeiro onde trabalhou em um escritório de arquitetura. Aos 23 anos, retornou a Alfenas e casou-se anos depois com a alfenense Zélia Amaral Carneiro (falecida em 2005) com que viveu 57 anos.
Aconselhado a seguir a Odontologia, foi taxativo: “Eu quero é escrever”. Mas teve que se render a um ofício com retorno financeiro e foi admitido em concurso público pela Caixa Econômica Federal. A arte de escrever continuou sendo desenvolvida paralelamente.
Além das mais de 50 peças, foram inúmeros contos e dois roteiros para o cinema. O “Cristo Submerso” (drama) e “O Levante das Saias”, filmado em Alfenas em 1967 pela Octans Filmes do Rio de Janeiro.
Em 1983, publicou o livro de contos “A Paróquia que Habitamos”. Um ano depois outros três textos de Waldir de Luna foram publicados no volume de contos “O Folclore da Caixa” em um concurso literário promovido pela Caixa Econômica Federal.
Outras obras também compõem a trajetória de Waldir de Luna. O livro de aventuras e ficção-científica “O Maluco do Morro Esqueleto” e “Expedição ao Fim do Mundo”, uma ficção-científica infanto juvenil, também integram a história do autor nascido no Vale da Eletrônica, mas foi adotado por Alfenas.
O corpo de Waldir de Luna Carneiro está sendo velado no Velório Municipal e será sepultado às 17h.
COMENTÁRIOS