Postado em sábado, 5 de novembro de 2016
às 16:04
Ajuste fiscal de Temer pune pobres, diz Conselho de Economia
Congelar verba social por 20 anos não afeta ricos, que já são pouco tributados e poderiam pagar mais.
Da Carta Capital
Em recente viagem à Índia, Michel Temer foi perguntado pela BBC Brasil sobre o motivo de ter escolhido um ajuste fiscal (congelar verbas sociais por 20 anos) que pune os pobres e poupa os ricos. Respondeu que a crítica “não tem procedência” e que “não há nenhuma perseguição aos mais pobres”. Uma explicação pouco convincente, segundo certos economistas, incluindo o conselho federal da categoria.
Para eles, o congelamento sacrificará os mais pobres, ao afetar serviços públicos como saúde, educação e assistência, áreas que no presente ajudam a promover um mínimo de proteção social e igualdade e que no futuro terão menos recursos. Uma avaliação que explica por que os aliados do presidente no Congresso fazem a proposta avançar a toque de caixa, sem muita discussão.
Para o Conselho Federal de Economia, o governo deveria enfrentar a crise fiscal com medidas pró-crescimento econômico e uma cobrança maior de impostos dos ricos. Seria um meio de arranjar dinheiro para bancar as despesas sociais, sem a necessidade de congelá-las.
“No atual momento de crise fiscal, não há como atender às crescentes demandas sociais sem mexer em nosso modelo tributário”, diz um comunicado recente do Conselho. “Contudo, em lugar deste debate, adota-se o caminho mais fácil, jogando o ônus nos ombros dos mais pobres.”
O modelo tributário brasileiro citado pela entidade é um “paraíso para os super ricos”, segundo um estudo divulgado em fevereiro por um órgão ligado às Nações Unidas, o Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo.
O estudo é de dois economistas brasileiros, Sergio Gobetti e Rodrigo Orair, ambos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e autores de análises diversas sobre a tributação nacional que sempre chegam à mesma conclusão: o pobre paga mais e o rico paga menos impostos.
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