Postado em sexta-feira, 30 de maio de 2008
Situação do canil municipal ainda é alvo de criticas
Alessandro Emergente
"A evolução de um povo e o seu progresso moral podem ser medidos pela forma como tratam seus animais". A frase é do líder pacifista indiano Mahatma Gandhi e reflete exatamente o oposto da política de extermínio de cães adotada pela atual administração que caminha na contramão dos anseios das entidades protetoras dos animais.
O método de sacrificar cães de rua como forma de controle de proliferação destes animais já é condenado pela própria OMS (Organização Mundial de Saúde) que concluiu pela sua ineficácia em 1992. A esterilização e a conscientização da comunidade são apontadas pela OMS como uma política mais eficaz e é defendida pelas ONGs de defesa dos animais. “O sacrifício não é o caminho”, diz Andréa Duarte, coordenadora da Fundação São Francisco.
>> Projeto propõe política de controle de cães com esterilização
Não bastasse a adoção de uma política conflitante com a recomendação da OMS e das ONGs de Alfenas, a situação do canil municipal ainda é alvo de tristeza para os defensores dos animais. O local de difícil acesso é um dos entraves para aqueles que pretendem adotar os animais.
Próximo ao bairro Campos Elíseos, o canil fica separado do bairro por uma estrada de terra que dificulta o acesso das pessoas. A poeira da via acidentada torna penoso o caminho a pé até o local. Em dias de chuva, o acesso é ainda pior – como presenciou a própria reportagem há cerca de dois meses – devido ao barro que impede, em muitas vezes, a locomoção de carros de passeio. A prefeitura, através de sua assessoria de imprensa, diz que desapropriou uma área próxima ao canil, que será urbanizada.
A reportagem voltou ao canil municipal na última terça-feira e presenciou uma das áreas coletivas de cães com filhotes e animais adultos dividindo o mesmo espaço (ver foto). Segundo Andréa, há informações de que a prefeitura não oferece ração especifica para os filhotes que não conseguem mastigar a ração adulta. A prefeitura alega que no local há “alimentos suficientes”.
Ao redor do canil, um cenário pouco convidativo para aqueles que pretendem visitar o local para adotar um dos cães. A sensação de uma área abandonada, cercada por montes de entulho, integra o ambiente. Os latidos dos cães que respiram em seus últimos dias de vida é outra cena difícil para os defensores dos animais. Durante a permanência da reportagem no local, quatro homens consumiam drogas há poucos metros de onde os cães estão alojados.
Ao deixar o local, a reportagem encontrou com o zelador do canil, Jorge Oliveira, no início da estrada que dá acesso ao canil. O funcionário da prefeitura, que retornava a área onde ficam os cães, disse que tem procurado fazer doações dos animais abandonados.
Investigação
No início deste ano, o Ministério Público instaurou um inquérito civil público para investigar denúncias de maus tratos dos animais no canil municipal. O inquérito ainda não foi concluído e, segundo o promotor Fernando Magalhães Cruz, caminha para a sua conclusão. Esta semana, a Promotoria fez novas requisições à prefeitura sobre o assunto.
A abertura do inquérito civil público foi após a direção da Sopranas (Sociedade Protetora dos Animais) fazer uma representação ao Ministério Público denunciando condições impróprias no canil municipal. Na época, o assunto foi veiculado pela imprensa e gerou uma audiência pública na Câmara Municipal.
Após cerca de quatro meses, as ONGs percebem pouca evolução em relação ao assunto. Um dos poucos pontos positivos é a troca do zelador que passou a desenvolver um trabalho elogiado pelas entidades, mas visto como uma ação isolada do próprio funcionário. A prefeitura se defende dizendo que o MP já ouviu os responsáveis pela administração e até agora não solicitou nenhuma medida administrativa.
O período de três dias para que os cães sejam resgatados pelos donos para que não sejam sacrificados é considerado excessivamente curto pelas entidades. O diretor de finanças da Sopranas, Paulo Roberto Prado, diz que tem conhecimento de animais com dono que foram levados para o canil e atribui o problema a uma campanha de divulgação falha sobre a política de extermínio dos cães.
A prefeitura
Através de um e-mail, a prefeitura disse que a política de controle dos animais está sendo executada no “estritos limites” do Código Sanitário Municipal e que as eutanásias obedecem inteiramente a regulamentação do código sanitário municipal. “O canil funciona dentro das normas estabelecidas para este fim: tem veterinário responsável e alimentos suficientes”, afirma.
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