Postado em quarta-feira, 30 de março de 2022 às 09:47

Beleza e autoestima: autocuidado veio para ficar após 2 anos de pandemia

Quando todo o mundo parou, em 2020, momentos de autocuidado e beleza se tornaram essenciais para as mulheres brasileiras. Tudo mudou no jeito como a gente se relaciona com os outros, e especialmente, consigo própria. Para debater diversidade, autoest


 "Ao falar sobre beleza depois de dois anos de pandemia, vivendo de uma maneira totalmente diferente do que a gente estava acostumada, é inevitável que a gente repense quem a gente é, o que a gente vive, e o que que a gente vai fazer daqui para a frente. Para nós, brasileiras, nesse país em que o universo da beleza se faz tão presente, ter ficado confinado ou ao menos longe da rotina por um certo tempo mudou profundamente o jeito com que a gente se relaciona seja com pessoas seja com os nossos rituais", define a diretora de Redação de Marie Claire, Laura Ancona Lopez, na abertura do brunch e talk Beleza & Diversidade.


Promovido por Marie Claire e Paco Rabanne, no Espaço Janela, em São Paulo, o evento reuniu um time incrível de mulheres para refletir sobre a beleza com foco em diversidade e autoestima.

"Como a gente fica agora que a pandemia parece finalmente se encaminhar para uma resolução? Somos as mesmas ou estamos completamente diferentes de antes? Será que alguma dessas coisas que a gente aprendeu e começou a fazer durante a pandemia vieram mesmo para ficar?", questiona Laura.

Para responder, contou no debate com a parceria de Maraisa Fidelis e Gui Takahashi, além da editora sênior de beleza de Marie Claire, Paola Deodoro em um talk esclarecedor sobre a importância da diversidade quando falamos em beleza para que todas as pessoas possam trabalhar a própria autoestima.

"É claro que a pandemia foi um desafio para todos, a gente ficou em suspenso, parece que estamos há dois anos ensaiando coisas sem saber exatamente como elas serão", diz Paola.

"Nesses tempos, falamos muito sobre autocuidado, que é algo que veio com uma tendência. É amaneira como entramos em conexão com nós mesmas. Quando a gente estabelece essa conexão, vem o cuidado. Com a saúde, o bem-estar", completa.

Maraisa e Gui concordam que, especialmente em um momento assim, torna-se mais delicado ainda tentar se adequar a um suposto padrão de beleza socialmente aceito, o que tem efeitos também na autoestima.

"Esses rituais geram uma conexão pessoal. É uma forma de cuidar da nossa saúde, do nosso bem-estar e beleza. É importante pensar que esses rituais de cuidado não são para outra pessoa, não é para o trabalho, é para você mesma."

Paola Deodoro

Beleza e autoestima na pandemia

A forma como lidamos com a beleza e autoestima durante a pandemia entrou em pauta. No papo, falaram sobre a importância dos pequenos rituais cotidianos de beleza e bem-estar. Inicialmente em queda no início da pandemia, o mercado de beleza rapidamente passou a crescer dutante a pandemia, com a onda do skincare.

"Nós estávamos naquele momento das máscaras faciais. As pessoas diziam ´durma enquanto o bebê dorme´, mas pra mim era ´faça máscara enquanto o bebê dorme´", diverte-se Paola.

Além do skincare, as convidadas lembraram de outras tendências do momento como o cabelo naturalmente branco.

"Foi um momento de decantar um pouco todas aquelas emoções que eu vinha passando desde 2017, quando iniciei a minha transição. Tem esse momento de me recolher, ter uma conexão maior com o espelho. Que rituair eram para mim mesma e quais eu fazia para ter mais passabilidade para outras pessoas?", conta Gui.

Para a coordenadora de conteúdo do Beleza na Web, esse período de isolamento foi importante para fazer as pazes com o espelho e a autoimagem no meio de muitas reuniões online se olhando pela câmera. Entre as descobertas desse período mais intimista, a influencer destacou o batom vermelho, que hoje a acompanha no dia a dia.

"Ficar tanto tempo em casa recolhida foi uma forma de decantar todas as emoções que eu estava sentindo desde o começo da transição e ter uma conexão maior com o espelho e meus rituais de autocuidado", conta. "A cor vermelha, por exemplo, foi uma descoberta da pandemia. Eu não me sentia muito confortável em chamar a atenção para os lábios. Mas aí, em casa, resolvi adotar."

"Os rituais de beleza se tornaram um separador entre minha vida profissional e pessoal, de descanso e lazer. De manhã, me sentia muito bem sentando em minha penteaderia e me arrumando para começar uma jornada de trabalho. Depois, na hora de descanso, removia a maquiagem e ali era uma separação para mim. "

Gui Takahashi

Para Maraisa Fidelis, falar sobre beleza nas redes sociais também foi uma forma de distrair o seu público, que precisava de um pouco de leveza no dia a dia. "Comecei a conversar com as mulheres que me seguem, dizia que estava com vontade de falar sobe maquiagem, por mais que parecesse algo ´desnecessário´ no momento. E muitas diziam que queriam ver tutoriais porque isso as distraía por um instante de tudo o que estava acontecendo naquele momento."

"Na pandemia eu comecei a usar menos produtos de maquiagem. Eu me olhava no espelho e passei a achar mais natural as partes do meu rosto que eu queria cobrir com maquiagem."

Maraisa Fidelis

A influencer avalia que depois da pandemia, passou a usar menos maquiagem e assumir um look mais natural. "Passei a cuidar mais da minha pele, em profundidade, e consegui achar legal ver minha pele sem maquiagem. E para o meu público funcionou. Elas gostam de me ver mais natural, como se estivesse mais próxima delas."

Diversidade
Por conta da mudança das consumidoras, que estão cada vez mais alinhadas à pautas sociais e à representatividade, as marcas de moda e beleza estão se voltando para a diversidade racial e de gênero. As influencers Gui, que faz parte da comunidade nipo-brasileira, e Maraisa, uma mulher negra, abordaram o tema da diversidade racial no mercado beauty.

"Essas conquistas vêm por meio da nossa voz individual, através da internet e de todo o trabalho que as pessoas têm feito de forma coletiva para reivindicar esses direitos e espaços. Eu tenho otimismo de que as coisas estão mudando."

Gui Takahashi

Para Maraisa, o momento foi também de questionamento sobre o mercado de beleza. "A mulher negra foi subjugada pelo mercado por muito tempo, sempre com a desculpa de que nós não teríamos dinheiro para comprar, por não acreditarem no nosso poder até de economizar para comprar nossos produtos."

"Já fui em reuniões de lançamentos e diziam que não haveria, por exemplo, bases em tons mais escuros porque ´não vendiam´. Qual é o cálculo? Qual foi a pesquisa de mercado? Isso me incomodava", conta.

"Antes havia poucas opções para mulheres negras, porque o mercado não acreditava que a gente pudesse comprar. E aí veio uma desconstrução, algo aconteceu. A gente só conseguiu essa pluralidade de produtos porque teve que provar que a gente poderia."

Maraisa Fidelis

Presente durante o brunch, a influenciadora Duda Reis celebrou o momento de maior pluralidade. "Tenho consciência que cresci numa bolha, tive uma infância muito singular. Mas o mundo é plural, e acho que a nossa geração está vindo para abrir os olhos e quebrar esses paradigmas mesmo. A gente já não se sente mais confortável nesse lugar, realmente sair da bolha é muito necessário."

"É muito importante se ver em corpos diferentes, rostos diferentes. A diversidade empodera. A gente se sente mais segura quando se vê em outras mulheres", completa Thaynara OG da plateia.

Empoderamento
Importado de um conceito que surgiu nos Estados Unidos nos anos 1970 no contexto de debates raciais, o termo empoderamento foi incorporado ao vocabulário brasileiro especialmente nos últimos anos pelas redes sociais. Mas, em nosso contexto atual, o que significa ser empoderada? É algo que nos liberta? Ou melhor: quais mulheres ele liberta?

"Quando se fala de mulheres negras, empoderamento é lembrar que eu sou o suficiente, eu sou capaz, eu sou o bastante. É sobre a gente se reconhecer como tal porque até então os nossos traços eram rechaçados. Agora todos querem copiar", analisa Maraisa.

Para a influencer, o racismo também está em questões sutis como na ideia da “preta metida”, do rótulo que carrega apenas por usar produtos caros ou se posicionar de forma contundente. O tema ressou particularmente em Raissa Santana, que acompanhava a conversa.

"Me conectei com o que elas falaram, porque muitas dessas situações a gente vive diariamente. Já me senti muito culpada por ter condições financeiras e comprar coisas caras. Foi importante ver que não acontece só comigo, que estamos juntas. Nós mulheres, mulheres pretas que saímos da periferia e conquistamos nossa independência financeira, nem sempre nos empoderamos disso", afirma.

"As mulheres negras sentem culpa ao acessarem bens de consumo. Quando eu uso uma base cara, as pessoas me questionam. Será que uma influenciadora branca seria questionada por usar um produto caro? Eu vou usar o que eu quiser e o que o meu dinheiro pode comprar."

Maraisa Fidelis

Sobre isso, Angélica Silva refletiu: "Eu sempre achei que o meu mês era novembro, que é o mês da consciência negra. Passei a me enxergar como mulher há muito pouco tempo, porque pensava que eu tinha que ser um ser invisível, ajudar as outras pessoas a terem espaço sem ter o meu espaço por mim mesma, e agora aprendi que eu posso ter o meu próprio espaço. Se conseguirmos nos unir pelo menos por um dia para fazer a diferença, já é alguma coisa. Se a luta para uma mulher branca já é difícil, imagine para uma mulher negra?"

"O que mudou minha autoestima em relação a beleza foi o skincare. Cresci ouvindo que não precisava cuidar da pele por ser negra, que tinha uma boa genética e não precisava me preocupar. Com o tempo, fui entendendo como cuidar da minha pele e me sentir confortável sem maquiagem porque minha pele já está ótima. Fez muita diferença pra mim", conta.

Amor próprio e redes sociais

A influência das redes sociais na relação com os corpos foi falado no bate papo. "Acho que tudo se intensificou para o bem e para o ruim durante a pandemia. Qualquer coisa se tornava foco para colocarmos a nossa energia, e acho que, nisso, muita gente deixou o ódio tomar conto. Mas, comparando com quando comecei, sinto que a experiência de esta na internet melhorou, também na questão do hate", afirma Maraisa.

"E as respostas das plataformas está mais rápido, não demoram mais tanto para tomar medidas. Mas, confesso, que ainda vejo muitas pessoas agindo com maldade, e isso, sim, cansa", completa.

Na ocasião, Gui Takahashi contou que seguir e acompanhar outras mulheres trans a fortalece. Citou Linn da Quebrada, participante do BBB 22, e como a internet pode se tornar uma ferramenta para pessoas LGBTQIAP+ busquem informação e tenham uma rede de apoio.

Apesar dos hates, as convidadas acreditam que existem esforços para tornar a internet um ambiente acolhedor, incluindo as plataformas que estão agindo mais rápido em casos de denúncia.

FONTE: Revista Marie Claire



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