Postado em sábado, 24 de outubro de 2020
Como montar uma reserva financeira para emergências
O chamado colchão de liquidez ideal deve ser suficiente para suprir entre seis e 12 meses de despesas
A perda do emprego, um problema de saúde ou um vazamento de cano dentro de casa. Em algum momento da vida, todo mundo irá se deparar com um imprevisto e precisará abrir a carteira para resolvê-lo. E é nestas horas que ter uma reserva de emergência ajuda a superar as adversidades com maior tranquilidade. A importância de construir um colchão financeiro (ou colchão de liquidez) já é alertada há tempos por especialistas em finanças pessoais, mas ganhou ainda mais força desde o início da pandemia de coronavírus.
O tamanho da reserva financeira ideal varia para cada pessoa, mas geralmente recomenda-se que o montante poupado possa cobrir entre seis e 12 meses de despesas. Em tese, um trabalhador com carteira assinada, que tem direito a seguro-desemprego em caso de demissão, pode montar um colchão financeiro menor do que o de um autônomo que não tenha qualquer tipo de cobertura caso perca seu ganha-pão.
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Independentemente de sua situação, o educador financeiro Adriano Severo salienta que o primeiro passo para estruturar a reserva é colocar na ponta do lápis todos os gastos e receitas mensais. Assim, será possível identificar a quantia a ser guardada e o caminho que poderá ser traçado para se atingir o montante desejado.
— Faça uma lista de todas as despesas médias mensais ao longo de um ano. Esse valor pode servir de parâmetro para saber quanto guardar. A partir daí, você pode ir construindo essa reserva aos poucos, não precisa ser de maneira imediata — aponta.
Neste sentido, para um trabalhador com carteira assinada com gasto médio de R$ 2 mil a cada 30 dias, a reserva recomendada seria de R$ 12 mil. Severo orienta que, após esse passo, a pessoa destine uma parte do seu salário para aportar na construção da reserva. Assim que o dinheiro cair na conta, separe imediatamente o valor para aplicar. Pode ser 5% ou 10% da renda líquida, por exemplo. Trate o investimento como se fosse um boleto a mais no mês, como a conta de água, luz ou internet.
Se o orçamento doméstico não estiver fechando e você tiver dívidas com juros altos, como cheque especial ou cartão de crédito, priorize a quitação das pendências.
Aplicações
A reserva de emergência deve ser construída em aplicações que tenham segurança e liquidez. Ou seja, precisa estar em um lugar que possa ser acessado de maneira rápida e em que não haja penalização pelo saque antecipado, nos casos de aplicações com prazo de resgate preestabelecido. Educador financeiro e professor da Escola de Negócios da Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS), Leandro Rassier ressalta que, neste caso, a rentabilidade não é a prioridade.
Mesmo com a queda da taxa básica de juro da economia brasileira, a Selic, a 2% ao ano, tendo corroído a rentabilidade das aplicações de renda fixa, os produtos conservadores seguem como os mais apropriados para a reserva de emergência. O título público Tesouro Selic, fundos DI e Certificados de Depósito Bancário (CDBs) de liquidez diária (leia mais abaixo) despontam como as alternativas recomendadas por terem solidez e rentabilidade superior à da caderneta de poupança mesmo após desconto do imposto de renda (IR).
Essas aplicações podem ser acessadas por qualquer pessoa em bancos e corretoras de valores, com investimento mínimo na casa dos R$ 100, geralmente.
Em meio às incertezas políticas e à dúvida sobre o cumprimento do teto de gastos pelo governo Jair Bolsonaro, o Tesouro Selic, considerado o investimento mais seguro da economia brasileira, teve rentabilidade negativa de 0,46% em setembro, algo que não ocorria há 18 anos. Por tabela, os fundos DI também apresentaram desempenho negativo. Mesmo assim, Rassier enfatiza que a aplicação segue tendo papel importante para quem deseja um local para deixar o colchão de liquidez.
— Acredito que isso é algo pontual, que decorre de uma transição na curva futura de juros. Quem tem dinheiro aplicado no Tesouro Selic não precisa entrar em pânico e sacar — aponta.
Educadores financeiros salientam que aplicações de renda variável (ações de empresas ou fundos imobiliários), fundos multimercados e outros produtos de renda fixa com resgate somente no vencimento não são recomendados para reserva de emergência. Por isso, construir uma base para os imprevistos é visto como o primeiro passo antes de o investidor começar a aportar em produtos com maior risco.
Opções para a reserva de emergência
Aplicações mais recomendadas
Tesouro Selic
- Considerada a aplicação mais segura do país, o Tesouro Selic (ou LFT) é um título público federal de renda fixa e costuma ser a primeira opção recomendada por educadores financeiros para deixar a reserva de emergência.
- Quando compra um título ou fração dele, o investidor está emprestando dinheiro ao governo federal. A remuneração está atrelada ao juro básico da economia brasileira acrescido de um pequeno percentual. Nesta quinta-feira (15), por exemplo, o Tesouro Selic com vencimento em 2025 oferecia retorno de Selic (hoje em 2% ao ano) mais 0,1901% ao ano.
- Sobre o rendimento incide imposto de renda (IR) na fonte. A alíquota do IR segue tabela regressiva: 22,5% para aplicações de até 180 dias, 20% de 181 a 360 dias, 17,5% de 361 a 720 dias e 15% acima de 720 dias.
- Caso o valor seja retirado antes de 30 dias de aplicação, também há incidência de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre o rendimento. Após esse período, o IOF é zerado.
- Em julho, a B3 e o Tesouro Nacional zeraram a taxa de custódia para os investidores com até R$ 10 mil aplicados em Tesouro Selic. Para quem possui aplicações acima desse valor, segue sendo cobrada taxa de 0,25% ao ano sobre o valor que exceder os R$ 10 mil.
Fundos DI
- Os fundos DI são fundos de renda fixa disponibilizados por bancos e corretoras que estão atrelados à chamada taxa DI, que costuma ser igual ou próxima à Selic. Quando compra cotas de um fundo DI, o investidor está deixando que um gestor profissional administre seu dinheiro e escolha os ativos que serão comprados e vendidos no mercado.
- A carteira dos fundos DI precisa ter, pelo menos, 95% de títulos públicos. O percentual restante pode ser aplicado em outros ativos a serem escolhidos pelo gestor. Assim, a rentabilidade costuma ser muito próxima da taxa Selic, com possibilidade de leve oscilação para cima ou para baixo.
- Sobre o rendimento incide imposto de renda. O pagamento é realizado no momento do resgate e segue a tabela regressiva, de 22,5% a 15%. Além disso, há incidência do come-cotas, uma espécie de adiantamento do IR que é cobrado duas vezes ao ano em cima da rentabilidade do período. Para aplicações de até 30 dias, há cobrança de IOF.
- Os fundos também costumam cobrar taxa de administração, que varia conforme a instituição. Mas há corretoras com taxa zero.
CDBs de liquidez diária
- O Certificado de Depósito Bancário (CDB) é um título de renda fixa emitido por bancos. Quando o investidor aplica em um CDB, ele está emprestando dinheiro à instituição financeira.
- O CDB é um dos investimentos mais conhecidos no país. No entanto, para a reserva de emergência, a recomendação é para que se recorra somente aos produtos com liquidez diária. Ou seja, aqueles com rendimento todo dia e possibilidade de saque a qualquer momento sem penalidade.
- Além disso, o ideal é que a aplicação escolhida tenha rendimento mínimo de 100% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), que fica igual ou próximo à Selic.
- Sobre o rendimento é cobrado imposto de renda (IR) na fonte. A alíquota do IR segue tabela regressiva: 22,5% para aplicações de até 180 dias, 20% de 181 a 360 dias, 17,5% de 361 a 720 dias e 15% acima de 720 dias.
- Caso o valor seja retirado antes de 30 dias de aplicação, também há incidência de IOF sobre o rendimento. Após esse período, o IOF é zerado.
- O CDB é um dos investimentos protegidos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Isso significa que, caso o banco quebre, o investidor tem cobertura de até R$ 250 mil sobre a aplicação naquela instituição.
Aplicações menos recomendadas
Contas remuneradas
- Alguns bancos digitais e corretoras vêm lançando no mercado contas remuneradas, nas quais o dinheiro aplicado rende ao menos 100% do CDI e a liquidez é diária. Sobre o rendimento também incidem a cobrança de IOF para saques de aplicações com menos de 30 dias e imposto de renda na fonte, com alíquotas entre 22,5% e 15%.
- Apesar de possuir características consideradas importantes para a construção de uma reserva, como liquidez e rentabilidade de 100% do CDI, nem sempre a aplicação é vista como ideal para construir o colchão financeiro.
- Há especialistas em finanças pessoais que veem esse tipo de aplicação como uma alternativa voltada apenas para as despesas do dia a dia, um local para guardar o dinheiro de curto prazo. No entanto, também há quem considere os produtos como uma boa alternativa para a reserva de emergência.
Poupança
- Aplicação mais popular do Brasil, a poupança vem tendo seu rendimento cada vez mais achatado nos últimos anos. Isso ocorre porque a rentabilidade da caderneta no momento equivale a 70% da Selic, ficando em 1,4% ao ano, atualmente. Desta maneira, quem investe acaba perdendo poder de compra, já que o retorno tende a ficar abaixo da inflação, projetada em 2,47% para 2020, segundo o Relatório Focus do Banco Central.
- Outra desvantagem está no fato de o rendimento do valor aplicado ocorrer apenas de maneira mensal. Se o saque for realizado antes de 30 dias da aplicação, o montante não sofrerá correção.
- No entanto, para uma reserva de curtíssimo prazo, pode ser uma opção, já que sobre a caderneta não incide imposto de renda e há a possibilidade de sacar o dinheiro a qualquer momento.
- Além disso, quem ainda possui dinheiro aplicado até maio de 2012 tem rentabilidade de 6,17% ao ano, superior à maioria das aplicações de renda fixa em um cenário de Selic em 2%.
Fonte: GZH
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