Postado em terça-feira, 14 de março de 2017 às 14:16

O agronegócio e as crises interna e externa: Desafios e oportunidades


Há um grande interesse em nível mundial a respeito de como o agronegócio brasileiro vai reagir à crise interna pela qual o País vem passando. Quão dependente é o agronegócio do apoio do governo e como suportará as restrições fiscais que deverão perdurar por vários anos?  Outra questão que vem sendo posta refere-se ao impacto que uma possível desaceleração no crescimento da China teria sobre o agronegócio do Brasil. Tendo a China como principal destino de suas exportações, como o agronegócio brasileiro reagiria a uma queda de demanda desse país, com especial destaque para a soja?
 
Do lado fiscal, é importante esclarecer, antes de mais nada, que o apoio recebido pelo agronegócio não é expressivo o suficiente para que o setor venha a se ressentir significativamente do endurecimento fiscal, desde que sejam mantidos os modestos investimentos em ciência e tecnologia e as também parcimoniosas políticas nas áreas de gerenciamento de risco, mudanças climáticas, agricultura de baixo carbono, e as voltadas para aspectos sanitários, por exemplo.
 
Depois da década de 1980, o grau de proteção e apoio público dado à agropecuária nacional caiu aos menores níveis mundiais. Um fator fundamental para o agronegócio, entretanto, é a infraestrutura – que não se inclui nas aplicações agrícolas no orçamento público, que demanda vultosos investimentos, para os quais o governo não conta com recursos. Aqui, a solução é o desenho de novos modelos envolvendo o setor privado e que superem os entraves que essas iniciativas têm enfrentado.
 
Quanto às mudanças no mercado externo, o agronegócio brasileiro deve ficar atento para as ameaças e oportunidades que devem emergir da nova configuração dos padrões de comércio mundial, principalmente as relacionadas ao reposicionamento ainda imprevisível dos Estados Unidos sob a administração Trump. Em relação à possível desaceleração da China, as expectativas são de que seja moderada, mantendo-se esse país como principal destino das exportações brasileiras.
 
Ademais, o agronegócio tem-se mostrado resiliente às mudanças nas condições mercado. O setor opera numa perspectiva de longo prazo, mantendo o contínuo empenho na busca de produtividade e eficiência, o que tem garantido um crescimento sustentável ao longo de décadas, sem pressão importante sobre os seus preços relativos – e, portanto, sobre a inflação – no mercado interno. A tendência é a de que, havendo um crescimento razoável no mercado internacional, o setor mantenha-se viável, garantindo, ao mesmo tempo, o abastecimento nacional. Ou seja, a recessão tem atingido o setor, como regra, de forma suportável no curto prazo. Clima e ocorrências de pragas e doenças têm sido os fatores que mais ameaçam o setor. É ilustrativo o crescimento esperado na safra corrente. É claro, de qualquer forma, que as perspectivas atuais de alguma recuperação da economia nacional são bem-vindas para o agronegócio.
 
Nunca é demais destacar que o agronegócio tem papéis fundamentais para a sociedade brasileira, o que não ocorre nas economias mais desenvolvidas com as quais compete no mercado internacional. Por ser um país de renda média e com elevado grau de concentração de renda e pobreza, um agronegócio eficiente – que produza volumes crescentes a preços estáveis ou decrescentes, como é o caso do Brasil – é instrumento essencial para tornar eficazes as políticas distributivistas de transferência de renda e de salários. Não se pode deixar de lembrar, a propósito, que o índice de pobreza no meio rural é praticamente o dobro do observado no País como um todo, questão que deve estar como prioritária na agenda dos formuladores de política pública. Como incluir produtivamente em torno de 70% dos agricultores brasileiros?
 
Para a sociedade como um todo, o importante é ter em conta que o governo distribui dinheiro e o agronegócio ajuda a transformar esse dinheiro em renda (capacidade de consumo). No Brasil, o agronegócio também representa fonte de 21% do PIB e de 21% do emprego, tendo um potencial não desprezível para ajudar na recuperação econômica do País. O setor é, ainda, supridor de imprescindíveis reservas internacionais. Mais do que oportunidades legítimas de ganhar dinheiro para os empreendedores, o agronegócio tem um papel social da mais alta relevância no Brasil.

Faemg


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