Postado em segunda-feira, 25 de junho de 2007

Alfenense é premiada no Festival Internacional de Cinema Feminino no RJ


A história de Alexina Crespo - primeira mulher de Francisco Julião - e sua atuação no movimento social agrário Ligas Camponesas emocionou o júri do Femina 2007 (Festival Internacional de Cinema Feminino), cuja premiação foi anunciada no domingo, no Rio de Janeiro. Fruto do resgate dessa história brasileira recente, o documentário "Memórias Clandestinas", da jornalista e cineasta Maria Thereza Azevedo, natural de Alfenas, sul de Minas Gerais foi escolhido como o Melhor Filme Documentário do evento.

"Memórias Clandestinas" foi selecionado juntamente com outros 19 trabalhos para a competição nacional de documentários, em meio a 800 inscrições. A exibição ocorreu nos dias 19 e 20, no espaço da Caixa Cultural. Criado em 2004, como um espaço para o debate e a reflexão de temas relevantes em diversas áreas da sociedade, o Femina tem como objetivo incentivar as produções de mulheres no cenário brasileiro e mundial.

Casada com o deputado e advogado Francisco Julião, a protagonista desta trama se torna uma das mais fortes defensoras do movimento que lutou pela posse da terra e o fim da exploração do trabalhador rural entre 1950 e 1964, cujo lema era "Reforma Agrária na Lei ou na Marra". Além de evidenciar a participação política de Alexina, hoje com 80 anos, o documentário revela a garra de uma mulher que lutou pelo seu espaço e expõe os seus temores de mãe, que se esforça para não se separar dos filhos nos momentos mais conflituosos. E mostra o lado da mulher indignada com a injustiça social, que acredita na possibilidade de mudar o país, o trabalho na organização das ligas, a guerrilha, o golpe e o exílio.

"Além da sua participação política, há também o aspecto feminista, da mulher que reivindica seu espaço de participação, e da mãe com o seu esforço para não se separar dos filhos nos momentos mais conflituosos. Uma mulher que tenta reverter um espaço de submissão dentro da casa e no espaço social, num ambiente machista que negava voz às mulheres", destaca a cineasta, que ouve os moradores da Galiléia, município de Vitória de Santo Antão (PE) e estudiosos como Maria do Socorro Rangel e o jornalista Vandeck Santiago, do Diário de Pernambuco, autor do livro "Francisco Julião, as Ligas e o Golpe Militar de 1964. Eles traçam um panorama das dificuldades dessa luta em um regime democrático pré-Golpe e pós-Golpe e a completa destruição de um movimento social realizada pelo regime ditatorial.

O documentário reúne também os relatos sobre a infância dos filhos de Alexina: Anatailde, Anatilde - que faleceu pouco depois das gravações-, Anatólio e Anacleto. Entre brincadeiras, humor, risos e aconchego, eles descrevem as lembranças da casa onde a família morou, na rua Cruz de Macedo, em Caxangá. A casa, hoje abandonada, foi palco de decisões políticas importantes para a história do país.
Alexina, uma mulher conhecida em sua terra pela elegância, vai para Cuba no início dos anos 60 e participa de treinamento num campo de tiro ao alvo. A convicção fez que chegasse até a China, para pedir apoio ao fundador República Popular Chinesa, Mao Tsé-Tung. Mas diante da perseguição, ela permanece em Cuba, exilada com os filhos, enquanto estourava o Golpe Militar de 31 de março. Depois segue para o Chile e Suécia, sempre se refugiando.

As Ligas Camponesas surge a partir da ida dos trabalhadores até a casa do então deputado estadual e advogado Francisco Julião, em busca de um defensor de seus direitos. Ao abraçar a causa, toda a família se vê envolvida. Alexina conta que ao curar os camponeses feridos que se deslocavam até sua casa para solicitar apoio do marido, não conseguia ficar calada tamanha as crueldades. Torna-se então uma das mais fortes defensoras da causa camponesa, ajudando a organizar e a expandir as ligas.

Produzido pela Sépia Cinema e Vídeo, em parceria com a Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba), o documentário tem o apoio do Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (Nead), por meio do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e do Programa de Promoção da Igualdade de Gênero Raça e Etnia (Ppigre). O documentário teve a participação de alunos e ex-alunos do curso de Rádio e TV da Unimep.

Maria Thereza Azevedo

Maria Thereza Azevedo, nascida em Alfenas, Minas Gerais, é jornalista e cineasta. Doutora em Artes, literatura Dramática com tese "O tarô e a dramaturgia, apontamento para a criação de um roteiro cinematográfico, pela ECA/USP onde foi professora no curso de Cinema. Em Cuba, pela Escuela Internacional de Cine e TV de San Antonio de Los Baños, se especializou em dramaturgia para roteiro cinematográfico, Entre os trabalhos que realizou estão Ojos que miran, sobre o artista plástico cubano Manuel Mendive, Palácio da Memória, com Luiz Melo e Rosi Campos para a formação de educadores, Imagens da Cidade, com Letícia Sabatella para o ensino de história. Entre nós e fitas, sobre a Festa do Divino de Piracicaba. Coordena o Curso de Rádio e TV da Unimep em Piracicaba.



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