Postado em domingo, 16 de agosto de 2020 às 20:32

Acampamento do MST em Campo do Meio pega fogo e versões divergem

PM culpa os moradores do local e diz que "manifestante a cavalo" iniciou as chamas; Sem Terra acusam a corporação de usar fogo para dispersar os protestos.


 Um acampamento do Movimento Sem Terra (MST), que foi alvo de ordem de despejo em Campo do Meio, cidade do Sul de Minas Gerais, nessa quarta-feira (12), sofreu um incêndio na manhã desta terça-feira (13).

Em vídeos encaminhados à reportagem – e outros que foram divulgados pelos manifestantes – vê-se uma grande coluna de fogo, que consome parte da mata seca que há no local.

Além de mais de 150 policiais militares emprenhados na madrugada de quarta e 2,5 mil pessoas que precisaram deixar o acampamento, as versões sobre como o as chamas começaram divergem.

Por um lado, o Capitão Souza, que comanda as operações em Campo do Meio, afirma que militares presentes no acampamento avistaram um homem a cavalo correndo e, pouco tempo depois, o incêndio começou.

Ele não soube precisar como exatamente o homem montado iniciou os fogos. “Vimos ele a cavalo, rodando próximo a vários pontos do pasto”, diz.

Do outro, manifestantes acusam a Polícia Militar (PM) de queimar parte da mata seca que existe no local para dispersar os manifestantes. “É claro que eles mentiriam dizendo que foi a gente. A PM tacou ateou fogo para dispersar as famílias", rebate uma ativista do MST.

A tensão no acampamento durou mais de 12 horas na quarta, quando houve os primeiros passos para o despejo.

Contudo, pela noite, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), afirmou em seu perfil do Twitter dizendo que pediu a suspensão da ação. Pouco tempo depois, o próprio governo do Estado esclareceu que isso não significava que os moradores seriam poupados.

“A polícia permaneceu no local e o comandante da ação disse ao MST que o despejo continua, caso não receba a ordem de suspensão de forma oficial”, afirma o MST em nota.

Após as denúncias de truculência por agentes da PM contra os sem terra, a corporação divulgou uma nota em que alega que a operação foi elaborada para que ocorra “de forma pacífica”. “Essas ações buscam preservar a segurança de todos os envolvidos na ação. As famílias vêm sendo realocadas em locais disponibilizados pela Prefeitura de Campo Belo”, diz o texto.

Conforme o movimento, porém, centenas de viaturas cercaram a ocupação e agiram com "truculência" diante das famílias. A entidade alega ainda que a ordem de posse ocorreu em meio à pandemia do coronavírus.

Conflito antigo

Desde o fim de julho, o MST diz que "viaturas e drones atormentaram a paz das famílias acampadas" quando a polícia teria "invadido" casas e ainda levado um os membros do movimento preso por resistência. O homem foi solto no mesmo dia e a entidade chegou a denunciar o caso ao Ministério Público diante da tentativa da PM em "coagir e incriminar os trabalhadores".

"Os dias seguiram tumultuados, com a intensificação da denúncia do despejo iminente, a busca de saídas jurídicas junto ao Ministério Público e a organização do acampamento para a resistência. Em meio à corrida contra o tempo, circularam dezenas de áudios das famílias denunciando as ações autoritárias, as rondas de viaturas aceleradas, as blitz nas estradas de acesso à pequena cidade", declarou a entidade em nota.

E na madrugada desta quarta, a ordem judicial foi cumprida e mais de 2,5 mil pessoas precisaram deixar o acampamento. Em julho do ano passado, a Justiça chegou a negar a reintegração de posse – o relator do caso, desembargador Luciano Pinto, enfatizou que o pedido não atendeu aos requisitos básicos. Nos últimos 22 anos, os membros do MST já foram alvo de cinco ações na localidade.

Ainda em 2019, um decreto do ex-governador Fernando Pimentel (PT) que transformava o entorno da usina em área de interesse social foi revogado pelo Estado após os proprietários do local questionarem o governo sobre o valor que seria pago para o assentamento das famílias.

No local, estava em construção um novo polo de conhecimento e tecnologia de agroecologia, com produção de alimentos sem uso de produtos químicos e fertilizantes tóxicos.

Fonte: O Tempo



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