Postado em terça-feira, 7 de agosto de 2018 às 18:06

Instituto citado pelo Fantástico já homenageou políticos de Alfenas

O Instituto Tiradentes está sendo investigado pelo Ministério Público, do Rio Grande do Sul, por negociar premiações a políticos gaúchos.


Alessandro Emergente

O Instituto Tiradentes, citado em uma reportagem do Fantástico (TV Globo) no último domingo, já homenageou políticos de Alfenas. O instituto, que tem sede em Minas Gerais, está sendo investigado pelo Ministério Público (MP), do Rio Grande do Sul, por negociar premiações a políticos gaúchos. 

Além do Instituto Tiradentes, uma segunda empresa é citada na reportagem do Fantástico por conceder premiações compradas. Durante dois meses um repórter trabalhou em uma repartição pública para investigar o suposto esquema que envolve a União Brasileira de Divulgação (UBD), com sede em Pernambuco.

Para mostrar o comércio de premiações, a produção do Fantástico conseguiu comprar a homenagem para um jumento, premiado por ser um gestor de destaque. Em troca, o jornalista – que se passou por um assessor – pagou R$ 1,4 mil.

Junto com as homenagens, os políticos também pagam pela participação em seminários promovidos por essas empresas. Em muitos casos, o dinheiro sai do erário público. A Promotoria de Justiça, do Rio Grande do Sul, abriu um procedimento para investigar esse tipo de prática. A suspeita é que os seminários sejam usados para dar aparência de seriedade ao esquema, que – em muitos casos – utiliza dinheiro público.

"É uma maneira de vender melhor o encontro, de maquiar, na verdade, a falcatrua que se esconde por trás e o conluio existente entre a empresa e o agente público. Esses eventos visam claramente à promoção pessoal do gestor, do agente público e, de outro lado, o lucro das empresas. Nenhuma finalidade pública", declarou o procurador-geral de Justiça do Rio Grande do Sul, Fabiano Dallazen, em entrevista ao Fantástico.

Em Alfenas


O Instituto Tiradentes costuma homenagear políticos de Alfenas. Porém, não há nenhuma investigação sobre supostas irregularidades envolvendo as premiações em Minas Gerais, envolvendo agentes políticos alfenenses. Mas o envolvimento da empresa em um suposto esquema no Rio Grande do Sul gerou repercussão nas redes sociais.

Alguns políticos de Alfenas já divulgaram terem sidos homenageados recentemente pelo Instituto Tiradentes, citado na reportagem. Em 2016, na legislatura passada, o atual presidente da Câmara Municipal, José Carlos de Morais (Vardemá/MDB), chegou a divulgar em sua página nas redes sociais uma homenagem.

No site da Câmara foi divulgado a homenagem a três vereadores (Foto: Reprodução/Câmara Municipal)


No ano passado, uma matéria, publicada no site oficial da Câmara Municipal, mostra três homenageados do Legislativo alfenense: Décio Paulino da Costa (PR), Kátia Geralda Silva Goyatá (PDT) e Waldemilson Bassoto (Padre Waldemilson/ PROS) receberam a Medalha dos Inconfidentes, em Belo Horizonte, em agosto do ano passado. Outro parlamentar, Edson Lélis (Edson da Distribuidora/PR), foi homenageado esse ano.

A homenagem é justificada a partir de uma pesquisa feita pela empresa por telefone com eleitores da cidade. Os convidados, segundo os critérios, são os políticos que obtém os melhores desempenhos como sendo os mais atuantes. A empresa informa possuir um banco de dados com mais de 120 milhões de telefones de todo Brasil, que são consultados pelos entrevistadores.

Outro lado

A reportagem do Alfenas Hoje conversou, na tarde de terça-feira, com alguns vereadores de Alfenas, que já foram homenageados pelo Instituto Tiradentes. Entre os citados nesta reportagem apenas Edson da Distribuidora não estava presente, uma vez que está em uma viagem.

A capacitação técnica para o mandato e a troca de experiência com outros agentes políticos justificam a participação nos seminários, que contam com palestras com especialistas em diferentes áreas, além de lideranças políticas. Entre os palestrantes nas últimas edições realizadas pelo Instituto Tiradentes estão nomes como o do desembargador Rogério Medeiros, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, e de políticos como Reginaldo Lopes (PT), Marcus Pestana (PSDB), Márcio Lacerda (PSB) e Rodrigo Pacheco (DEM).

O atual presidente da Câmara Municipal chegou a ser homenageado em 2016 (Foto: Reprodução/Facebook)


As inscrições para participação nos seminários são pagas pela Câmara Municipal com a justificativa de capacitação do mandato. No ano passado, a inscrição de cada parlamentar foi de cerca de R$ 500. Nenhum valor foi pago pela premiação, enfatizam os vereadores que têm direito ao recebimento de diárias para o custeio das despesas durante cursos e eventos para qualificação do mandato. Porém, Kátia diz não ter usado diárias, embora cite que legalmente poderia ter lançado mão desse direito legal.

Padre Waldemilsson disse que, na legislatura passada, chegou a receber, durante três anos seguidos, convites para participar dos seminários a partir da pesquisa feita pela empresa. Mas foi somente no ano passado que resolveu participar. Na sua avaliação, após três negativas, se fosse um esquema de venda de homenagens, ele certamente não seria selecionado novamente, o que voltou a acontecer em 2017.

“Os cursos me trouxeram um conhecimento que eu não tinha”, disse a vereadora ao citar, principalmente, a palestra sobre o pacto federativo, um dos temas que tem sido estudado por ela como pré-candidata a deputada federal. Ela acredita que sua pré-candidatura tenha motivado ataques nas redes sociais e que acionará a Justiça para coibir práticas abusivas.

Em nota, o Instituto Tiradentes disse que o recebimento de homenagens não tem custo algum ao agraciado e nem está condicionado sua participação nos seminários. “Informamos que o Instituto Tiradentes não comercializa, sob qualquer pretexto, medalhas e diplomas de mérito, nem certificados de participação em seus seminários, que são emitidos, apenas, àqueles participantes presentes em pelo menos 75% dos seminários”, afirma.



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