Postado em quarta-feira, 4 de julho de 2018 às 09:09

O desafio do resgate na Tailândia os doze meninos presos na caverna

Em plena Copa do Mundo, o mundo todo torce agora por um mesmo time de futebol: os doze meninos e seu técnico presos na caverna de Tham Luang...


 Nem os tombos de Neymar, nem as tarifas de Trump. Nem os desvarios do Supremo, nem petistas ou bolsominions. Os olhos de todo o mundo agora se voltam angustiados para outro lugar: a caverna de Tham Luang, na Tailândia.

Na última terça feira, os mergulhadores britânicos John Volanthen e Rick Stanton encontraram enfim doze meninos, de entre 12 e 16 anos, e seu técnico de futebol, Ekkapol Janthawong, de 25, desaparecidos havia nove dias na caverna, retidos pela subida da água provocada pelas chuvas torrenciais na região. Estavam todos vivos.

A missão de resgate enfrentará o desafio de trazer para fora da caverna inundada garotos que jamais mergulharam e só agora voltaram a receber comida e remédios. É uma tarefa tão improvável quanto o nome do rei tailandês, que prometeu não economizar recursos para salvá-los, Maha Vajiralongkorn Bodindradebayavarangkun.

Treiná-los para a viagem de quilômetros até a entrada da caverna, com vários trechos submersos, poderá lever meses, já que nenhum deles sabe mergulhar. Alternativas como perfurar a caverna ou tentar bombear água não são viáveis diante da qualidade do solo, da distância envolvida e da inclemência do clima.

Operações dessa natureza já deram certo noutros lugares. Em 1983, oito espeleólogos amadores foram resgatados de uma caverna do Kentucky. Em 2004, seis britânicos (entre eles cinco militares) ficaram presos uma semana numa caverna do México até ser retirados lá de dentro. O salvamento de um físico isolado numa caverna alemã levou 11 dias e demandou o trabalho de 728 pessoas.

Mas nenhum desses casos se compara ao drama tailandês. Não apenas porque os envolvidos são crianças, mas porque a topologia da caverna oferece dificuldades enormes mesmo a mergulhadores e espeleólogos experientes. O trajeto até a saída envolve mergulho em trechos escuros, lamacentos, com forte correnteza.

“É um dos mergulhos em caverna mais extremos que já fiz”, afirmou à Sky News o experiente mergulhador Ben Reymenants, envolvido no resgate. “É muito comprido e complexo. Quando começa a chover, a correnteza é tão forte que mal dá para nadar contra ela, e a visibilidade cai a zero.”

O Conselho Britânico de Resgate em Cavernas informou que os meninos foram encontrados a pouco mais de 2 quilômetros da entrada da caverna (há 10 quilômetros de galerias), entre 800 metros e 1 quilômetro sob o solo. “Estão localizados num espaço relativamente pequeno, e isso tornaria qualquer tentativa de perfuração como meio de resgate muito difícil”, afirma em comunicado.

De acordo com o último relato da equipe de salvamento, Reymenants descobriu um novo canal até a câmara onde o grupo foi encontrado, mais largo e com correnteza mais favorável. “Parece que a saída poderá ser mais fácil do que esperávamos, para não dizer mais segura”, diz no Twitter um grupo de mergulhadores.

Os meninos e Janthawong estão alimentados e sob cuidados médicos. Receberam comida rica em energia, proteínas e de fácil digestão. Mas o governo tailandês ainda trabalha com a hipótese de, diante dos riscos na operação de salvamento, mantê-los dentro da caverna por até quatro meses, quando acaba a estação das chuvas.

Se a permanência na caverna se estender por um tempo longo, o maior desafio será psicológico. Os meninos foram encontrados com moral alto, em parte resultado do trabalho de Janthawong, um budista praticante de meditação. Para manter o clima positivo, será preciso imbuí-los de espírito semelhante ao das tripulações de submarinos, que passam longos períodos submersas.

Nem sempre é possível manter unido um grupo tão grande. Depois do resgate dos 33 mineiros chilenos presos por 69 dias na mina de Copiapó em 2010, vieram à tona relatos de disputas e rachas entre eles. Mas também emergiu um regime democrático de resolução de disputas, que permitiu o salvamento de todos.

“Na Tailândia budista, a relação de humanos com cavernas é de domesticação”, escreve em seu blog o antropólogo Edoardo Siani. “Cavernas são consideradas abrigos de um poder especial, acumulado pelos virtuosos que nelas ousam entrar – ascetas, monges e eremitas.”

Em tailandês, Tham Luang Nanga Non significa “grande caverna da dama reclinada”. Reza a lenda local que a caverna é habitada pelo espírito de uma princesa que engravidara do amante plebeu, com quem fugira do pai que desaprovava a união. Depois de escondidos lá dentro, o amante foi morto pelos soldados do rei ao sair em busca de comida. Sozinha, a princesa se matou. Seu sangue deu origem ao rio que corre sob a montanha, cuja silhueta lembra uma mulher deitada.

O desafio do resgate contará não apenas com a paciência e sabedoria milenar do budismo, mas com os bilhões de torcedores que, em plena Copa do Mundo, passaram a sofrer pelo mesmo time: o tailandês Moo Pa, formado pelos doze meninos e por seu técnico.


(ou Javali Selvagem) e seu técnico, presos na caverna Tham Luang, na Tailândia (Foto: Tham Luang Rescue Operation Center via AP)







Fonte: G1



Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com tal monitoramento. Informamos ainda que atualizamos nossa

Estou de acordo