Postado em quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018
às 16:04
´Pantera Negra´
Primeiro filme dos estúdios Marvel protagonizado por personagem negro aborda questões raciais e tem time feminino poderoso, mas ação deixa a desejar...
Se o herói de “Pantera Negra” não tivesse aparecido antes em “Capitão América: Guerra Civil” (2016), o público distraído poderia nem perceber que se trata de mais uma adaptação da Marvel. O filme estreia no dia 15 no Brasil como um dos melhores do gênero, ao mostrar que tem algo a dizer além dos já esperados socos e explosões.
Este é o primeiro projeto dos estúdios da editora protagonizado por um negro, e seu sucesso começa com o seu diretor, Ryan Coogler (que ainda divide o roteiro com Joe Robert Cole).
O jovem cineasta já tinha mostrado o dom de usar franquias pop para debater questões raciais em “Creed: Nascido para lutar” (2015), além de explorar o tema mais diretamente em sua estreia, "Fruitvale Station: A última parada" (2013).
Agora, usa o novo monarca de uma nação tecnológica no coração da África para discutir tópicos que poucos imaginariam no centro de um filme de super-heróis, como colonização, exploração e refugiados – com uma voz própria que nunca descamba para a demagogia.
O rei está morto
“Pantera Negra” poderia ser considerado uma continuação direta de “Guerra Civil”. T’Challa (Chadwick Boseman) retorna à misteriosa Wakanda para se tornar rei após a morte do pai em uma explosão.
Com o novo cargo, ele recebe de vez os poderes do guardião animal do reino, mas deve decidir se revela a riqueza secreta de seu país para ajudar os vizinhos ou se continuará isolado do resto do mundo.
Wakanda é fictícia, claro, mas a nação desenvolvida por Coogler parece viva na trama. Afastada das demais civilizações, a região apresentada no filme tem política, mitologia, arquitetura e tecnologia complexas e ricas (ao contrário de Asgard, berço de Thor), em um belo exercício do que poderia acontecer se a cultura africana nunca tivesse sido contaminada pelo Ocidente.
As panteras
Como um cenário como estes merece um elenco à altura, o diretor convoca um dos melhores times já formados pela Marvel, constituído quase totalmente de atores negros.
Boseman repete o bom trabalho como o herói, e Michael B. Jordan, que repete a parceria de “Creed” e "Fruitvale Station" com o cineasta, constrói um vilão à altura – um dos mais interessantes das produções da Marvel, apesar de algumas inconsistências.
Mesmo assim, eles quase são apagados pela força feminina a seu lado. Danai Gurira (“The walking dead”) rouba 100% das cenas em que aparece – as comic cons estarão lotadas de Okoyes pelos próximos anos – e Letitia Wright (“Black mirror”) está brilhante como a jovem princesa gênia que chuta traseiros.
Ok, é importante salientar que todas as mulheres no filme, que ainda inclui Lupita Nyong’o (“Star Wars: Os últimos Jedi”) e Angela Basset (“Invasão a Londres”), chutam traseiros. Muitos. Uma pena que tais chutes não façam jus às atuações.
Tapa na pantera
A ação claramente não recebeu tanta atenção quanto a construção de Wakanda ou quanto o enredo. Apesar de momentos interessantes, principalmente os rituais atrelados à passagem da coroa, grande parte das sequências é genérica e poderia pertencer a qualquer produção do gênero.
Além disso, os desfechos de algumas das batalhas parecem acontecer apenas por necessidade da trama, sem explicações. Algo parecido acontece em pontos-chave da história. O vilão capturado após uma longa perseguição em uma cena, consegue escapar em seguida sem qualquer tentativa dos heróis.
“Pantera Negra” não é perfeito, e nem tenta ser. Assim como seu monarca, o filme tem seus defeitos, mas mostra sua força ao superá-los e envolver sua mensagem de forma tão orgânica na história que é difícil saber onde uma começa e a outra termina.
Wakanda parece ser um dos focos de "Vingadores: Guerra Infinita", próximo grande evento da Marvel que estreia em abril. A esperança é que o reino governado por T’Challa – a riqueza de seu desenvolvimento e a relevância de seus temas – sobreviva ao combate, e se torne a base do futuro da editora nos cinemas. Vida longa ao rei.
Fonte: G1 Cinema