Postado em quarta-feira, 17 de janeiro de 2018
às 10:10
"Me chame pelo seu nome"
Mostra descoberta homossexual de forma tocante e sem melodrama...
Me chame pelo seu nome" dá uma cara real, vibrante e próxima a duas coisas imateriais e difíceis de explicar: desejo e afeto. O filme mostra descobertas sexuais e sentimentais de um jovem italiano nos anos 80. Ele vive um romance arrebatador com um aluno do seu pai.
Tudo parece sonho em um belo cenário italiano, mas ao mesmo tempo próximo da vida como ela é. Elio (Timothée Chalamet) vive um romance bonito, mas também de se perguntar: Quem nunca? É um clássico primeiro amor (seja gay ou hétero), com suas contradições: sensual e constrangedor, pessimista e eufórico, decidido e desajeitado.
Dilemas no paraíso
Quem viu "Um mergulho no passado" (2015), filme anterior do diretor italiano Luca Guadagnino, já conhece o universo do novo filme. Natureza mediterrânea, sol e calor, pouca roupa e poucos problemas financeiros ou materiais além de discussões intelectuais, artísticas e amorosas.
(Nesse aspecto, quem não tem uma casinha simples numa cidadezinha paradisíaca no litoral italiano para passar os verões lendo poesia em alemão não vai se identificar. Mas, enfim, arte e amor são universais.)
O roteiro foi adaptado por James Ivory - indicado três vezes ao Oscar de diretor por "Uma janela para o amor" (1985), "Retorno a Howards End" (1992) e "Vestígios do dia" (1993) -, a partir de um romance do mesmo nome, de 2007, do egípcio André Aciman.
Pêssego e precisão
Não há ostentação, no entanto: a luxúria aparece nas imagens dos próprios corpos, em esculturas greco-romanas e na segunda cena mais marcante do filme, que envolve masturbação e um pêssego. Tudo com atuações econômicas.
O melhor trabalho é de Chalamet, que não precisa de muitos gestos para mostrar a ebulição interna pelo qual passava Elio (o ator é uma das revelações do ano, e também está bem em "Lady bird", com personagem bem diferente).
Outra revelação é Armie Hammer, que faz o estudante e amante Oliver. Seu papel anterior mais conhecido era o dos robóticos irmãos gêmeos Winklevoss de "A rede social". Quem esperava um americano grosseiro (tanto do ator quanto do personagem) vai ter uma surpresa.
Ilha de tolerância
Mais a melhor cena é um monólogo de Michael Stuhlbarg, que faz o pai de Elio - no caso, o mérito é do ator (de "Um homem sério") e do texto original de Aciman. Fala de aceitação, da homossexualidade do filho, mas também de juventude e velhice, com lições para todo mundo anotar no caderninho.
Elio vive em casa uma ilha de tolerância em relação à sua homossexualidade. É claro que, nos anos 80, há uma clara noção de que há um mundo muito pior lá fora. Mas não há violência ou grandes tragédias. Pode ter espectador que pense: "Ah, então não tem drama nenhum aí".
Por outro lado, o retrato da descoberta de desejo, afeto e a questão colocada pelo pai sobre juventude têm potencial de cativar qualquer pessoa. Por enquanto, tem funcionado: é um dos filmes recentes mais elogiados pela crítica, tem uma sequência confirmada e é e cotado a várias indicações ao Oscar, inclusive de melhor filme.
Fonte: G1 CINEMA