Postado em sexta-feira, 15 de junho de 2018 às 09:09

Presidente do Banco Central da Argentina renuncia em meio a acordo

A falta de controle sobre o dólar e sobre a inflação, sem cumprir com as metas estabelecidas desde 2016, foi fundamental para ruir a credibilidade do agora ex-presidente do Banco Central...


 Quando se insinuava uma nova corrida cambial que, na quinta-feira (14), estabelecia um novo recorde no valor do dólar, o presidente do Banco Central argentino, Federico Sturzenegger, renunciou ao cargo. A decisão é mais uma indicação do tamanho do desafio econômico e político que enfrenta o governo do presidente Mauricio Macri.

Sturzenegger será substituído pelo atual ministro das Finanças, Luis Caputo, braço-direito do presidente Macri. Essa proximidade pode ser lida como uma sintonia com as decisões de governo, mas também pode prejudicar a autonomia do Banco Central em relação ao Executivo, um compromisso assumido com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para o recém anunciado acordo por US$ 50 bilhões.

Em consequência com a migração de Caputo ao Banco Central, o atual ministro da Fazenda, Nicolás Dujovne, absorve também a pasta de Finanças, ampliando ainda mais o seu peso dentro do gabinete de ministros.

Sem trégua
Se a conclusão do acordo poderia supor uma trégua dos mercados sobre o peso argentino, na prática, tem sido o contrário. Na contramão das moedas da região que tiveram uma leve recuperação, a moeda argentina sofreu na quinta-feira (14) uma nova desvalorização de 6,4% em um único dia, atingindo 28,44 pesos por dólar. A alta desde o começo da corrida cambial na última semana de abril já chega a 40%.

"Não há maior demanda de dólares, mas ninguém vende dólares no país. Nem pelo lado das exportações nem pela oferta de crédito. Até que chegue o dinheiro do FMI, estamos num limbo de falta de dólares", avalia à RFI o economista Fausto Sportono.

A falta de controle sobre o dólar e sobre a inflação, sem cumprir com as metas estabelecidas desde 2016, foi fundamental para ruir a credibilidade do agora ex-presidente do Banco Central.

"Nos últimos meses, diversos fatores deterioraram a minha credibilidade no mando da instituição", admitiu Federico Sturzenegger na sua carta de renúncia.

O seu substituto, Luis Caputo, foi quem negociou a saída da Argentina, em 2016, da situação de moratória da dívida com os fundos especulativos, os chamados "fundos abutre". Também foi quem freou a corrida cambial do mês passado em negociações diretas com bancos e fundos de investimento do exterior.

Carta de intenção com o FMI

A renúncia de Sturzenegger coincide ainda com a divulgação da carta de intenção com o FMI.

O plano com o FMI implica um ajuste mais acelerado para reduzir o déficit fiscal e para controlar a inflação que deve duplicar o previsto no começo do ano.

A nova inflação prevista para o ano é de 27%, com uma margem de erro de cinco pontos, até 32%. Esse nível de inflação antecipa conflitos sociais. Nesta semana, os caminhoneiros e professores fizeram greve. Foi convocada também uma greve geral para o próximo dia 25.

Pelas metas do acordo, a Argentina se compromete a uma inflação de 17% em 2019 e de 9% em 2020. O crescimento econômico de 2018 deve ficar entre 0,4% e 1,4%. O déficit primário deve chegar a zero em 2010, numa sequência decrescente de 2,7% em 2018 e de 1,3% em 2019.

O acordo com o FMI ainda não passou pela aprovação da diretoria, prevista para o próximo dia 20. O primeiro desembolso de US$ 15 bilhões chegaria ao país no dia 22, sendo a metade para cobrir o parte do déficit fiscal; metade para reforçar as reservas do Banco Central.

"O acordo com o FMI é o novo plano econômico. Neste momento, estamos num impasse. Não desativamos a inércia de como vínhamos nem aplicamos o novo programa negociado com o Fundo Monetário", observa Sportono.







Fonte: G1



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