Postado em quarta-feira, 28 de março de 2018 às 10:35

Críticas, reforços, finanças e Kalil: Sette Câmara avalia início de mandato no Atlético

Mandatário concedeu entrevista exclusiva ao Estado de Minas/Superesportes...


 O Atlético assumiu claramente uma nova filosofia de gerenciar o futebol desde dezembro de 2017, quando o advogado Sérgio Sette Câmara, de 52 anos, foi eleito presidente para o triênio 2018-2020. Em vez de contratações e gastos desordenados - recorrentes na gestão de Daniel Nepomuceno, companheiro de grupo político -, o atual dirigente tem tratado as questões financeiras com pé no chão e sem pressa. Ele evita falar em contratações de peso ou títulos de expressão a curto prazo, mas questiona as cobranças da torcida.

“Às vezes eu me sinto sufocado, porque em pouco tempo de Atlético eu sou cobrado como se estivesse aqui há cinco anos”, diz Sette Câmara, que, além de advogado, foi oficial do exército. “Busquei os ensinamentos que aprendi e tento aplicar aqui no Atlético para que tenhamos um clube melhor”, diz. Na entrevista exclusiva ao Estado de Minas/Superesportes, o presidente fala sobre novos contratos, reforços à vista e sobre a aproximação ao Cruzeiro.


O senhor já disse que não fala muito sobre futebol, mas a primeira pergunta é a respeito do Thiago Larghi. Até que ponto o senhor e a diretoria confiam no trabalho do Thiago como treinador?

Na verdade eu gosto muito de falar sobre futebol. Às vezes sou mal interpretado, como fui ao falar isso em certa oportunidade. O que eu quis dizer é que quem fala pelo Atlético quando o assunto é futebol é o Gallo. Não significa que eu não tenha participação, que eu não tenha opinado e, inclusive, que eu não tenha decidido. Porque quem decide aqui no Atlético sou eu. O Gallo me passa as condições, cuida do futebol no dia a dia. O Atlético estava carente disso depois do Maluf, em que não tivemos outro diretor de futebol. A chegada do Gallo me dá muito conforto, ele tem a linguagem do jogador, do boleiro, e acerta as questões de ´bicho´, está lá no dia a dia. Eu não posso estar onipresente aqui na sede, cuidando de questões administrativas, burocráticas, contratos, pagamentos e outros acertos da vida do clube, tenho a minha vida profissional também, como advogado, pois preciso pagar minhas contas também, porque o salário do presidente e do vice-presidente é zero. Então, tenho que ter minha vida normal também. Então, ele cuida do futebol no dia a dia. Por isso, quando eu falei que quem cuida do assunto futebol é o Gallo, é porque ele está lá no dia a dia. Com relação ao treinador, o Thiago foi observado no período do Oswaldo (de Oliveira) e vimos nele uma pessoa muito preparada, capacitada, um excelente auxiliar. Então, nós resolvemos contratá-lo definitivamente como auxiliar do clube. Ele é o auxiliar-técnico do clube. Se ele vai ficar como treinador efetivo ou não, só o tempo dirá. Ele sabe muito bem que é um auxiliar e pode ser que amanhã venha um treinador que assuma efetivamente a posição e ele vai continuar. Se esse treinador sair, ele assume novamente.

O resultado do clássico na final do Campeonato Mineiro influenciará na decisão?


Não, de forma nenhuma, não depende disso (do resultado no clássico). Nós não identificamos no mercado um treinador que atendesse os nossos anseios. Isso quer dizer do ponto de vista técnico. As pedidas hoje são estratosféricas. Normalmente, esses treinadores vem pedindo contratos de dois anos. Trazem vários auxiliares, querem preparador físico. Essa conta vira 800 mil reais por mês. Se mando ele embora, tenho que pagar durante todo o período restante de contrato dele esse valor para todos. Não identificamos alguém que pudesse vir dentro desses pressupostos que queremos para assumir o clube. Ele (Thiago) vem crescendo. Obviamente, ele não tinha embocadura de túnel, nunca foi treinador de ficar ali no túnel, mas com o passar do tempo ele tem demonstrado que tem capacidade de dirigir o time e fazer as coisas acontecerem durante os jogos. Eu sempre fiz isso na minha vida, na minha profissão, de dar oportunidades às pessoas. Vocês também, um dia, tiveram oportunidade de começar para estarem sentados aqui fazendo essa entrevista. Provavelmente alguns colegas seus de turma não tiveram essas oportunidades e tiveram que seguir outros caminhos e até outras profissões. Assim como o Carille teve oportunidade lá atrás e vários comentaristas importantes do Brasil falaram muito mal e disseram que o Corinthians estava fazendo uma aposta ruim. Acabaram tendo que dar a mão à palmatória. Assim como o Jair no Botafogo, que ninguém apostava nele, embora já tivesse tido a função. O Jair mesmo chegou a ser auxiliar, depois a treinar o time, vieram outros treinadores, ocuparam o espaço e ele voltou a ser auxiliar. Até que ele foi efetivado entre essas chegadas e saídas de treinadores. Isso pode acontecer com o Thiago também. Não significa dizer que está ou vai ser efetivado ou que está vindo outro treinador. Não estou com pressa nenhuma nisso. Só a imprensa está com essa pressa. Está indo bem, tranquilo. Se amanhã trouxermos outro treinador, ele (Thiago) sabe o lugar dele. Está bem conversado, ele vai se enquadrar e continuar o trabalho dele tranquilamente. É um cara que apostamos nele em um trabalho de longo prazo.


O senhor disse, quando foi eleito, que o seu grande sonho era a conquista do título brasileiro pelo Atlético. O Gallo já disse que o clube vai buscar pelo menos quatro jogadores para a disputa do Brasileiro. Qual será o perfil desses contratados? O mesmo do início do ano, sem custos, por empréstimo, ou vai buscar investidores para reforçar a equipe com nomes de peso?

O presidente mais campeão no Atlético se chama Alexandre Kalil. Ele passou três anos, dos seis que ele ficou, em dificuldades. Quando ele chegou, ele brinca que abriu o cofre e só encontrou notas promissórias lá dentro. Nós também estamos encontrando um quadro um tanto quanto preocupante. Estou aqui há quatro meses. É muito pouco tempo. A pressão que viemos sofrendo principalmente nesse início de ano foi muito grande. Precisamos fazer mudanças profundas no clube. No ponto de vista financeiro, nos salários, folha e tudo quanto é tipo para tentar colocar o clube numa situação razoável ao fim do ano. Para começarmos a ter um fluxo de caixa melhor. O Flamengo demorou três anos para ter um fluxo de caixa e conseguir fazer contratações. Temos que ter paciência, não adianta. Eu não vou conseguir fazer tudo ao mesmo tempo. Montar um super time e, ao mesmo tempo, colocar o clube nos trilhos financeiramente. É a história do cobertor curto. Ou você tenta consertar a questão financeira ou você monta um grande time. Um grande time vai te fazer ter uma folha muito grande e você não tem receita para pagar essa folha. Eu me preocupo muito com o futuro dos clubes. É de se observar que muitos não estão prestando atenção nos pagamentos que a televisão irá fazer no futuro. Não sei como era antigamente ou até recentemente. O clube que cair para a Série B, e vocês poderiam questionar: ´mas aí você não acha que é o caso de investir?´, o Atlético está procurando um, dois, três reforços. Mas não vamos contratar ninguém por pressão e com dinheiro que a gente não tem.

Para fazermos uma contratação agora, precisamos da origem do dinheiro, seja um empréstimo ou um investidor. Essa palavra investidor, hoje, passou a ser muito menos possível de ser obtida. A legislação atual impede que alguma pessoa física ou jurídica tenha o direito do jogador. Ou o clube faz um empréstimo para depois pagar, e não pode pagar em cima do lucro que venha ter em cima da venda do jogador. Porque senão estaríamos falando de investidor. Ou temos que gerar essa receita através das vendas que ele fizer de seus jogadores. Vem aí uma janela em julho e agosto, se tivermos uma proposta interessante por um atleta nosso, podemos fazer uma negociação e com parte desses recursos faremos contratações. Fora isso não tem milagre. Quem tiver fazendo contratação a torto e a direito, ou tem um patrocinador, um banco como é o caso do Palmeiras, bancando praticamente tudo, inclusive tiveram que se adaptar a essas questões porque poderiam ter problemas, ou então está pegando empréstimo e isso não vamos fazer. Endividar o clube cada vez mais. Temos que apostar, pois temos um elenco qualificado. Pode ser melhorado, pode. Nós temos que ter originalidade e encontrar soluções interessantes. Eventualmente, um clube menor do Brasil ou da América Latina, que a passagem de uma atleta deles pelo Atlético, venha a ter um valor agregado. Fazemos uma negociação com esse clube, que continua a ter uma participação. O jogador chega aqui por um milhão de euros e depois você faz uma venda de 3 milhões e esse clube tem um percentual e tem uma participação equivalente no lucro da venda desse jogador que passar pelo Brasil. Isso está acontecendo cada vez menos. Argentina e Uruguai são mercados que não mais necessitam dessa passagem pelo Brasil. Mercados que hoje ainda dá para fazer coisa parecida são o equatoriano, o chileno, o colombiano. E ainda assim, você já vê jogadores saindo direto para a Europa. Isso também está diminuindo.

Qual a solução, na minha opinião? Investir em categorias de base. Investir em jogadores de outras agremiações que possam vestir a camisa do Atlético. Temos buscado isso. Recentemente, buscamos um lateral-esquerdo do Audax, o Kelvin. Foi um dos melhores da Copa São Paulo. Veio ao Atlético de graça por empréstimo. Se quisermos ficar com o jogador ao fim do ano, exerceremos. Tivemos outro jogador, o Pedrinho, que veio do CRB, um meia. Está indo muito bem nos treinamentos. Temos os jogadores da base que subiram também, os outros que emprestamos. Os que estão voltando. Esse é o grande segredo. No jogo contra o Tombense, o Atlético entrou com sete jogadores com idade de 21 anos ou menos. É o segredo. Eles vão estar prontos? Claro que não. Mas nós estamos preparando. Em paralelo à experiência que o time tem hoje, com Ricardo Oliveira, com Fábio Santos, Léo, Victor, Elias, também estamos fazendo nosso dever de casa de formar jogadores. Não apenas isso e emprestamos. Estão treinando junto com esses jogadores do time titular. Estão sendo preparados para a partir desse ano e do próximo entrar no time principal.

O senhor bate frequentemente na tecla da saúde financeira do clube. A conta chegou realmente agora para o Atlético? No ano passado, por exemplo, foram muitos investimentos. Essa nova metodologia do clube é por causa desse fracassos dentro de campo no ano passado, com Fred e Robinho? É o mesmo grupo político administrando o Atlético. Teoricamente, um deveria dar suporte para o outro.

É verdade. Mas a minha filosofia pessoal é, obviamente, diferente da do Daniel (Nepomuceno, ex-presidente do Atlético). Eu até trabalhei aqui durante o período em que ele esteve no Atlético e auxiliei naquilo que era possível, embora eu exercesse uma função de Conselho Deliberativo, eu era vice-presidente. Nós pensamos diferente. Obviamente, só depois que você se senta ali naquela cadeira (ocupada pelo presidente) é que você tem uma noção exata do que está acontecendo no clube. Não estou querendo com isso criticar a administração do Daniel. Mas nós pensamos de formas diferentes. Como formação, sou advogado de empresa. Conheço muito da matéria de recuperação de empresa. Encontrei um quadro financeiro preocupante. O Atlético tinha folha (salarial) atrasada, muitos valores em aberto. Estamos tentando compor com os principais credores do clube, até porque vem aí um estádio. E nós não podemos ficar à mercê, inclusive, de ter os recursos do estádio, que vão estar numa conta para pagar a obra, aqui e ali penhorados por conta dessas dívidas. Estamos negociando. Não tem como fazer um ‘super-time’ e, ao mesmo tempo, colocar as finanças do clube em dia. Nós temos que pensar o seguinte: nós temos um estádio para ser feito. Tenho que ter um dinheiro numa conta em que eu não posso nem correr o risco de ter penhora em cima dela. Nós temos que permanecer como um time brigando pelas primeiras posições e, se possível, até ganhar um campeonato. Como vocês me perguntaram, é um sonho meu (ganhar o Campeonato Brasileiro), obviamente. Acho que é o sonho de todo atleticanos ganhar um campeonato brasileiro depois de tantos anos. Já são 47 anos sem ganhar um Campeonato Brasileiro. Pode ser que nosso time este ano brigue já lá na ponta do Campeonato Brasileiro. Acho que o time tem evoluído. Acredito que com um ou dois reforços nós podemos ficar ainda mais fortes. É claro que não depende só de nós.

Temos que encontrar soluções para trazer esses reforços, como eu falei. Vou dar um exemplo: teve um jogador que procuramos, o João Paulo, do Botafogo. É um bom jogador. Acho um ótimo jogador. Infelizmente, ele teve essa lesão horrorosa e vai ficar o resto do ano sem jogar. Quando estava jogando, a gente entendia que era um jogador que poderia agregar e muito ao Atlético. O Botafogo disse que já tinha recusado 6 milhões de euros pelo jogador. Onde eu buscaria R$ 24 milhões? Isso é mais do que o dobro de um patrocínio máster que o clube tem. Então não tem condições. Não existe máquina. Existe o dia a dia do clube, existe o ano a ano do clube. Talvez até, não digo que seria superavitário, mas a receita abateria com a despesa. Mas há o cheque especial e as dívidas que existem. Quando você, na sua casa, ganha lá R$ 2,5 mil e tem uma despesa de R$ 2,5 mil, mas só que você entrou no cheque especial… O que você ganha não dá para pagar mês a mês. Aquela bola de neve vai só aumentando. Tem uma hora que você tem que chegar ao seu credor e falar: ‘Não aguento mais. O que você pode fazer para mim? Me dá um desconto e parcela?’. Obviamente, cada um desses credores vira uma parcela. Para um eu pago R$ 100 mil, para outro eu pago R$ 200 mil… E aí quando você vai olhar por mês, além do que você gasta no dia a dia do clube, você ainda tem várias parcelas somadas, que vão dar aí R$ 2 milhões, R$ 3 milhões, R$ 4 milhões. E aí a conta não fecha. Tem que achar mecanismos para achar o ponto de equilíbrio, em que você não comprometa mais o futebol e coloque as contas em dia. Se você não fizer isso, se alguém não fizer… Não é desculpa esfarrapada. Não vou passar pelo Atlético e deixar o Atlético em frangalhos. Minha intenção é tentar melhorar bastante a saúde financeira do clube.

Acho que tempos melhores virão com o nosso estádio, haja vista a situação em que o Palmeiras se encontra hoje. Nós podemos ter um exemplo de fora do Brasil, que é a Juventus. É um case. A Juventus existe antes e depois do estádio dela. Quantos título ela ganhou depois do estádio dela e de ter transformado ele em um caldeirão? Para fazer um estádio, não posso ter as minhas contas comprometidas. Você tem um fluxo, se não para a obra. É muito fácil ficar aí em Twitter, na internet: ‘Esse presidente não contrata ninguém…’. Eu tenho um objetivo. Eu sei onde quero chegar. Em toda a minha vida, em todas as coisas que eu coloquei a mão, eu consegui chegar lá. Mas eu sabia que eu ia sofrer para conquistar aquilo que era o meu objetivo. E eu conquistei a grande maioria das coisas desta forma: com muito sacrifício, com muitas dificuldades e não dando ouvidos àqueles que, efetivamente, não ajudam o clube.

O que eu tenho vista aí… E é até uma questão muito importante de ser dita é o seguinte: tem uma turma aí de palpiteiros, de tuiteiros que ficam aí a denegrir a nossa imagem, a ficar falando mal da administração ou do diretor de futebol, etc. Eu estou farto deste povo. Esses caras não agregam em nada. O que a torcida do Atlético tem que saber é que esse tipo de gente não ajuda em nada. Eu, quando estou aqui, estou dando a cota de sacrifício. Deixo de gerar dinheiro para a minha família em prol do Atlético. O meu salário aqui é zero. Como o Kalil fez, o próprio Daniel, eu agora aqui com o meu vice Lásaro (Cândido da Cunha)... Nós somos atleticanos de verdade, nós temos que ter apoio da torcida, nós estamos tentando fazer um clube melhor. Não são esses palpiteiros, esses caras que ficam criticando na internet. Esses não ajudam em nada, nada. Eles só querem nos atrapalhar, só querem nos prejudicar. Tenho dúvidas se são atleticanos de verdade, tenho dúvidas. Eu nasci aqui, neste bairro, no Hospital São José. Cresci aqui no Santo Agostinho, estudei no Colégio Santo Agostinho, joguei futebol de salão onde hoje é a quadra do Atlético. Eu amo este clube mais do que qualquer um desses aí que ficam nos criticando, que não têm coragem sequer de dar nome. É tudo debaixo de pseudônimo. São um bando de covardes, que ficam a nos criticar. Esse tipo de coisa vai ter sua resposta no tempo e modo. Eu tenho visto, inclusive, algumas ofensivas. E eu estou guardando. A internet virou uma latrina. Escreve o que quiser, fala mal da família, fala mal disso, mete o pau naquilo. Nisso que estou falando aqui ainda vão meter o pau. Mas eu não estou preocupado. Estou colecionando todas essas críticas e aquelas que são ofensivas e registrando em cartório. Todas. Porque, no tempo oportuno, vou pedir reparação de todas as ofensas que tenho recebido e as direcionadas a outras pessoas que trabalham comigo. As coisas não são mais assim. As pessoas estão achando que podem sair falando mal dos outros na internet ou até mesmo na imprensa e que não vai acontecer nada. Não é bem assim. Nós estamos começando a viver outros tempos, a ter respeito àqueles que estão aqui no Atlético efetivamente se entregando ao clube.

Sérgio Sette Câmara frisou a ajuda de Alexandre Kalil nas tomadas de decisão sobre questões do Atlético


O Atlético tem demonstrado claramente a postura em relação a campanhas como a valorização feminina no futebol, depois de polêmicas do desfile da DryWorld e do caso Robinho. Houve também mobilização contra o racismo. Essas campanhas têm sido bastante elogiadas na internet. Mas, apesar desse posicionamento tanto sobre mulheres, quanto como ao racismo, a diretoria do Atlético é formada principalmente por homens brancos. A única exceção, ao menos de acordo com o site oficial do clube, é Idalmo Constantino da Silva, diretor-geral do Labareda. Essa contradição entre as campanhas e a prática, que também ocorre em outros meios do futebol, como a própria imprensa, te preocupa de alguma forma?

A diretoria do Atlético é composta por cinco diretores: eu, Lásaro, Gabriel, tinha o Bebeto, que faleceu, o Plínio era auxiliar dele, e o Fabel, que está há anos como diretor financeiro. A diretoria do Atlético é bem pequenininha. Não tem um diretor jurídico, pois o Lásaro acumula a função. Tem o Lucas, que substitui a Adriana (Branco) e teve seu aval. A gente ainda se socorre de alguns amigos que são auxiliares, como o doutor Emir. Não tem discriminação. A gente passou a ter outro tipo de postura porque acreditamos que o clube tem um papel social muito importante. Você atinge milhões de pessoas. Quando você faz uma campanha bacana, você dá o recado. Você fala para o mundo que não é só futebol. A gente pensa que deve haver igualdade entre as pessoas. A Síndrome de Down tem que ser vista com outros olhos. Às vezes, eu me sinto sufocado, porque em pouco tempo de Atlético eu sou cobrado como se estivesse aqui há cinco anos. Não tive tempo para montar uma diretoria. Eu perdi o meu ‘braço direito’ e ainda junto os cacos porque tenho que recompor. Tem jogo quarta e domingo e a exceção é esta semana. É uma cobrança muito grande. Toda essa cobrança me faz basicamente viver o Atlético 24 horas por dia. Estou fazendo o que eu posso.

Acho que sou um cara competente, estudei em escola pública, depois estudei em escola privada, fui militar durante muito tempo para pagar minha faculdade. Fui professor universitário durante 17 anos para ajudar no meu orçamento familiar. Fiz mestrado e entendo que fui bem sucedido na minha profissão. Tenho um filho que é o piloto que hoje efetivamente é o principal brasileiro no sentido de chegar à categoria máxima, que é a Fórmula 1. Acho que tive competência para colocá-lo lá. Enfrentamos forças de fora do país, como pilotos filhos de milionários e equipes como Renault, Mercedes e Ferrari por trás. Fomos alcançando o espaço. Se ele vai chegar lá eu não sei. Só de ele estar lá é um sucesso. Ter essa honra de ser o presidente do clube do meu coração e um dos mais importantes do mundo, ser nascido e criado aqui é a prova de que tive respaldo do conselho e de alguma maneira demonstrei ter uma condição, reputação e competência para sentar aqui. Peço a Deus todos os dias para iluminar e que a bola entre na casinha. Muitas vezes a gestão não é lá essas coisas, mas, se o time ganha, fala-se em gestão sensacional. Quem faz uma gestão mais profissional ou correta e não dá sorte de a bola entrar na casinha vai ser marcado como mau administrador.

Estou tendo coragem para enfrentar certas situações aqui e até colocar meu pescoço na corda para colocar o Atlético nos trilhos. Poderia muito bem não estar fazendo acordo com nenhum credor e guiando o dinheiro para montagem de um time. Mas como seria o Atlético de amanhã? E como serão os demais clubes? Já vejo alguns passando certas dificuldades. A gente escuta jogador falar que “para aquele time, eu não vou”. Por que ali não paga salário, atrasa bicho, atrasa outros compromissos. E nós temos honrado isso e temos trabalhado para crescer. O futebol brasileiro vai ter quatro ou cinco protagonistas. O resto será participante, como ocorre em Portugal, na Espanha e em outros países. E esses times terão musculatura financeira maior. Obviamente, dinheiro traz dinheiro. E quanto maior o clube, mais ele vai ter possibilidades de investimento. Estamos preparando o Atlético para ser um deles.

Quando começarão as obras do estádio?


Não tenho condições de tocar o estádio e o clube ao mesmo tempo. Temos uma comissão, liderada pelo Rubens Menin, que ficaria responsável pela construção. A construtora já está escolhida. Foi um levantamento feito por ele e o Rafael Menin, presidente da MRV, que cuidaram da parte de levantamento, da saúde financeira e das melhores propostas. A comissão é composta por mim, Rodolfo Gropen, Ricardo Guimarães, Rubens e Rafael Menin. A parte de burocracia, de registros, protocolos e meio-ambiente está 100% tocada pelo Rubens e pelo Rafael. A gente apenas acompanha, discute, analisa os números. Nós confiamos muito neles, eles doaram o terreno. Dentro do contexto do estádio, a construção e o terreno vão ser olhados por eles.

O senhor é advogado e foi oficial do exército. Muito se diz que o seu perfil de comando é “linha-dura”. O que traz dessas duas experiências profissionais que julga ser de grande utilidade para administrar um grande clube de futebol?


Minha formação militar foi importante, porque me trouxe ensinamentos de disciplina, respeito, hierarquia, mas nem por isso sou uma pessoa de extrema-direita. Sou advogado, fui 20 anos do conselho da OAB e sempre tive olhar voltado para a defesa dos direitos e garantias do cidadão, como a liberdade de imprensa, o direito de ir e vir e o respeito pelo cidadão. Acho que o Brasil ainda está engatinhando. Temos que investir em educação e cultura, pois só assim vamos ter uma diminuição da violência cada vez maior. Tenho orgulho de ter servido o exército, onde aprendi lições civis, o Hino Nacional e o Hino à Bandeira. Está faltando respeito ao próximo. Busquei os ensinamentos e tento aplicar aqui no Atlético para que tenhamos um clube melhor.

O senhor gosta de ser comparado ao Alexandre Kalil?


Não, absolutamente. Não tenho a menor pretensão de chegar na sombra dele. O Alexandre tem uma história aqui no clube, que vai demorar 110 anos para alguém chegar perto. Por outro lado, até por questão de inteligência, não poderia deixar de me aconselhar com ele, seguir alguns caminhos. Durante o tempo que estive com ele na presidência, pude observar e aprender. O Alexandre tem uma importância grande no clube e aquilo que puder fazer como ele fez, sem perder minha personalidade, obviamente vou fazer. Mas tenho minha forma de trabalhar e acredito que vai dar certo.

Como andam as negociações com a Caixa para renovar o patrocínio?


Está fechado o contrato. Atlético e Cruzeiro já fecharam. Hoje mesmo (nessa terça-feira), assinei um documento que segue para lá. Os formatos são iguaizinhos. Tenho tido um ótimo diálogo com o Wagner (Pires, presidente do Cruzeiro). Ele é uma pessoa agradável e enxergo apenas como adversário no futebol. Sou pragmático nisso. Atlético e Cruzeiro têm que andar juntos. Unidos, temos uma voz poderosa na CBF e na discussão de contratos. Estávamos unidos, negociamos juntos e fechamos na última semana. Temos que evoluir e não involuir. Estamos conversando sobre a possibilidade de clássicos com torcida dividida. Eu cresci com isso. Os marginais têm que ser identificados e afastados do estádio. Não podemos afastar o torcedor que vai se divertir. Eu e ele estamos unidos nesse aspecto. Mas vamos ter de fazer planejamento bem-feito.




Fonte: Super Esportes



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