Postado em 19 de agosto de 2023

À procura do tesouro interior

Autor(a): Roberto Camilo Órfão Morais

 Autor(a): Eder Vasconcelos*

A busca pelo autoconhecimento destaca-se hoje em um vasto número de livros no mercado da literatura de autoajuda. Os antigos monges não procuravam em primeiro lugar o autoconhecimento, mas a experiência de Deus, do Absoluto. Para eles, somente em Deus o ser humano encontra o caminho para si mesmo. Há também um crescimento enorme daquilo que denomina-se “New Age”, “nova religiosidade”, “neo-ocultismo”, ou “superstição moderna”, “milagrosas curas” e tantas outas coisas. Mas não podemos chamar tudo isso de autoconhecimento ou procura do tesouro interior.

A pergunta pelo ser humano e pelo Sagrado perpassa toda a humanidade. Nesse sentido, espiritualidade e autoconhecimento são temas entrelaçados. No século XXI, a espiritualidade e o autoconhecimento ganham relevância cada vez maiores. Há uma sede por espiritualidade e não tanto por uma tradição religiosa propriamente dita. Há uma busca pelo humano e pelo tesouro interior em nossos dias.

A espiritualidade é um caminho viável para o conhecimento real de si mesmo. Nesse sentido, os místicos têm razão: Quem chega ao conhecimento de si, chega ao conhecimento de Deus. A busca pelo autoconhecimento não pode girar em torno do ego. É uma busca sincera para encontrar o Deus vivo e verdadeiro.

A verdadeira espiritualidade não aliena o ser humano. Ela liberta das imagens errôneas de Deus. Sua tarefa fundamental é conduzi-lo para as profundezas do seu ser onde Deus mora desde sempre.

O padre do deserto Evágrio Pôntico, também conhecido como o primeiro psicólogo entre os monges do século III, disse: “Se quiseres chegar ao conhecimento de Deus, procura antes conhecer-te a ti mesmo”. O pensamento de Evágrio é semelhante à inscrição que o filósofo Sócrates certo dia se deparou no templo de delfos: “Conhece-te a ti mesmo”. O que Sócrates pensou ao visualizar tal inscrição? Conhecer-se é um desafio, uma busca, uma luta, uma aventura pelas profundezas humanas.

Portanto, é preciso ficar claro que autoconhecimento não é a mesma coisa que autoajuda. São coisas distintas. O autoconhecimento instiga o ser humano a responder com sinceridade a pergunta: “Quem sou eu? O que estou fazendo aqui? E qual o verdadeiro sentido da minha existência? O autoconhecimento não tem a receita, a resposta pronta. É sempre um lançar-se para dentro da interioridade sem perder vista o chão que pisa.


*Artigo escrito em parceria com Eder Vasconcelos, que é franciscano, escritor, teólogo e filósofo. É autor de diversos livros, entre eles, Pedagogia do Silêncio, da Editora Paulinas.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje

Roberto Camilo Órfão Morais
Professor
Professor de Ciências Humanas do Instituto Federal Sul de Minas - Campus Machado.



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