Um amigo é uma testemunha
Autor(a): Roberto Camilo Órfão Morais
Autor(a): Eder Vasconcelos*
Há um antigo provérbio que diz com muita veracidade: “Viver sem amigos é morrer sem testemunhas”. No ontológico livro ‘As Grandes Amizades’, Raissa Maritain afirma, “Nossos amigos fazem parte de nossa vida, e nossa vida explica nossas amizades”. Amigos são testemunhas de quem e como somos. Nos conhecem tão profundamente que nosso “legado” se torna testemunho autêntico a ser compartilhado.
Viver sem amigos deve ser uma experiência triste e sofrida. Hoje com o advento das mídias digitais muitos podem cair na ilusão da “amizade virtual”. Mas nós sabemos que na vida nua e crua necessitamos de “amizade real”. Como isso, não negamos a possibilidade das amizades virtuais. Afinal, vivemos num mundo interconectado. Somos parte dele, ou melhor, somos parte de um todo.
A amizade é um sentimento mútuo de bem querer entre duas pessoas ou mais, sob o signo da igualdade e do respeito, um ditado latino anuncia, “a amizade torna iguais”. Para Aristóteles a amizade é uma das virtudes primordiais para o ser humano, pois para ter uma vida boa, para ser feliz, depende justamente da amizade. Nietzsche em seus aforismos chega a dizer que alguns não conseguem se libertar dos seus grilhões, mas conseguem libertar os amigos.
A amizade acompanha o ser humano nos diversos momentos da vida, assumindo significados diferentes, como na idade pré escolar, na forma de adesão ao lúdico, as brincadeiras; na pré adolescência pelo companheirismo, visando responder as primeiras duvidas da existência; na juventude pela cumplicidade, no enfrentamento aos desafios pela busca de horizontes utópicos; Na idade madura como suporte, quando nos tornamos seletivo, diante da percepção da finitude, como está imortalizado no poema de Mário de Andrade, “O valioso tempo dos maduros”.
O viver do ser humano acontece é na relação, a pessoa é o que é de acordo com sua relação com os outros, eis a importância da amizade, em um processo de humanização, na generosidade, na solidariedade, no respeito ao outro. A amizade é a mais sublime expressão do amor humano, e todo o amor vem de Deus, pois ele é o puro e eterno amor.
Jesus de Nazaré nos revela nos Evangelhos a sua íntima amizade com seu Pai a que ele chama pelo nome carinhoso de Abba, Paizinho querido. Todos nós somos convidados a fazer a mesma experiência de Jesus. Sentir Deus como Paizinho querido cheio de ternura e bondade. Amigo do ser humano e amigo da vida.
Que no final de nossa peregrinação terrestre nossos amigos e amigas possam testemunhar com prazer e alegria no coração: Ele foi um grande e bom amigo. Um tesouro precioso, valioso. Nada do que é humano lhe era estranho. Nos mostrou sua plena humanidade. Disso somos suas testemunhas.
*Artigo escrito em parceria com Eder Vasconcelos, que é franciscano, escritor, teólogo e filósofo. É autor de diversos livros, entre eles, Pedagogia do Silêncio, da Editora Paulinas.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje