Em busca do essencial
Autor(a): Roberto Camilo Órfão Morais
Autor(a): Eder Vasconcelos*
O escritor Antoine de Saint-Exupéry, em O Pequeno Príncipe, escreveu belamente: “Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos”. Com os olhos do coração somos capazes de ver com mais clareza aquilo que é essencial na nossa vida cotidiana. A espiritualidade nos convida a trilhar o caminho em busca daquilo que é essencial e gerador de sentido. Pois é somente com as “lentes” do coração, espírito de “finesse”, que se pode ver nitidamente.
O coração é a casa onde estamos, nosso centro oculto, inatingível pela razão, espírito “geométrico”. É o lugar da decisão, que está no mais profundo das nossas faculdades psíquicas. É o lugar da verdade absoluta, no qual optamos pela vida ou pela morte, pelo efêmero ou pelo eterno.
O monge beneditino Anselm Grün, meditando sobre a espiritualidade contida nos Ditos dos padres do deserto que viveram entre os séculos III e VI, diz: “o essencial de nossa espiritualidade está em termos um coração, um coração que sabe compartilhar os sentimentos, que se deixa tocar, que sente, que ama. Quando alguém tem um coração, pode ser salvo”. O coração que ama conhece a Deus “porque Deus é amor” (1 Jo 4, 8). A função do amor é levar o nosso coração de volta para Deus. Portanto, sem coração não se chega a Deus.
É essencial que a espiritualidade cristã do século XXI tenha um coração. Ter um coração significa compartilhar os sentimentos, tocar, sentir, abraçar, amar, beijar, acariciar, escutar etc. A ausência de coração empobrece a espiritualidade e as relações que dela decorrem, pois ele pode salvar, redimir, libertar, cicatrizar, curar e integrar os nossos lados sombrios. O mais belo de tudo é que o coração nos levará até Deus, visto que sente e é intuitivo. É o coração que nos torna plenamente humanos. Ele é o lugar da confiança e da esperança. Confiança em si mesmo, em Deus e nas pessoas que consideramos nossas amigas.
Se decidimos viver ou não a partir da fonte profunda, nenhum de nós escapa ao apelo, ao convite do coração. Por vezes, ele grita a sua sabedoria e continuamente nos envia insights tão silenciosos que corremos o risco de não ouvi-lo devido o ruído interior. É isso que precisamos no tempo presente desenvolver uma relação diferente e mais profunda com o nosso coração. No nível do coração somos verdadeiramente humanos, isto é, nós mesmos: pobres e vulneráveis, mas receptivos à graça e a misericórdia de Deus Pai e Mãe.
Na Bíblia encontramos estas palavras: “Cuida do teu coração, pois nele está a fonte da vida” (Pr 4, 23). Cuidemos de nosso coração para que ele seja uma fonte de vida nova a jorrar para aqueles que têm sede de vida em abundância.
*Artigo escrito em parceria com Eder Vasconcelos, que é franciscano, escritor, teólogo e filósofo. É autor de diversos livros, entre eles, Pedagogia do Silêncio, da Editora Paulinas.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje