Postado em 7 de abril de 2023

Morte e Ressurreição

Autor(a): Roberto Camilo Órfão Morais

 Sendo o homem o único animal que sabe que vai morrer, a sabedoria nos ensina que o sentido que damos à morte traduz o sentido que damos à vida- a morte nos impõe a vida como valor. Para diversos pensadores é o problema filosófico por excelência. Problema este, que gera sentimento de angústia, pois a humanidade é desafiada por ela mesma a realizar algo definitivo em um mundo marcado pelo provisório.

Na antiguidade grega temos distintas reflexões sobre a morte, posições que se contrapõem: transcendência e imanência. Reflexões estas, gênesis de diferentes narrativas existenciais da atualidade pós-moderna, marcada paradoxalmente por um misticismo alienante e um hedonismo doentio. Ambas narrativas, instrumentalizadas por sistemas de poder e privilégios.

Na categoria transcendência, podemos citar a tradição socrática-platônica que, procura nos convencer que não devemos temer a morte pois, ela significa a libertação da alma, da prisão do corpo, para a imortalidade. Essa tradição é baseada em uma concepção dualista: mundo das formas, transitório, imperfeito e, o mundo das ideias, perfeito, eterno, imutável. Nessa categoria o sentido da vida se dá além morte, não passando o nosso mundo, de um vale de lágrimas.

Na categoria imanência, temos o estoicismo, que surgiu na Grécia antiga, mas que fez escola em Roma. Está sintetizado nas palavras do poeta Horácio, em seu livro Odes: “Carpe diem quam minimum crédula postero” ou “colha o dia, confia o mínimo no amanhã”, pois nada nos garante que teremos uma existência pós-morte. Essa tradição propõe que o sentimento de amor, que gera apego, seja extirpado, em razão da busca pela perfeição; asceticismo. Para o bem fluir da vida, o estoicismo, pregava o desapego, a apatia. Pregação presente na atual sociedade, impregnada pela cultura da indiferença, com total ausência de compaixão em relação aos seres vivos e ao conjunto da natureza.

Com o surgimento do cristianismo, criou-se uma nova categoria com a crença na encarnação de Deus, a Transparência: Deus (transcendente), dentro do mundo (imanência). Deus está nas coisas e as coisas estão em Deus, por causa de seu ato criador- panenteísmo. A fé cristã apresenta um Deus presente na história, que cuida de cada um de nós; “o definitivo entrou no provisório e é aí que o encontraremos”. Ele está transfigurado na face daqueles que sofrem injustiças, provocada por um processo histórico, social, político e econômica.

Jesus Cristo em sua missão caminha em direção contraria àquela das doutrinas filosóficas gregas sobre a morte, afinal Ele não é um simples filósofo. Nos revela, um Deus sensível ao coração, Aba- paizinho, seu nome é Misericórdia. Amar, sem medo, ensina os evangelhos, porque a morte não é a última palavra, mas nos integra e reúne, para toda a eternidade. A essência da Fé cristã se encontra na Ressurreição, na vida em plenitude, onde: “tudo se torna imediatamente, presente e integrado o eu, o corpo, a alma, o cosmo e Deus”.




** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje

Roberto Camilo Órfão Morais
Professor
Professor de Ciências Humanas do Instituto Federal Sul de Minas - Campus Machado.



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