O Perdão
Autor(a): Roberto Camilo Órfão Morais
Autor(a): Eder Vasconcelos*
A palavra perdão desperta dúvidas e interrogações; como perdoar uma ofensa, uma agressão se estamos machucados pela dor de sermos ofendidos? A boa didática orienta que é pertinente compreender o que não é o perdão, para em seguida refletir sobre o que é, e o seu verdadeiro sentido.
Perdão não é esquecimento da ofensa e de quem a cometeu, pois existe no ser humano a faculdade da memória e ela incide em nós o mal que nos foi feito e quem a praticou. A tradição judaica e cristã ensina que só Deus em sua onipotência pode perdoar esquecendo, assim nos libertando para uma vida nova. (Is 38,17; Jr 31,34; Hb10,17).
Perdoar não é a negar o mal sofrido, dispensar das responsabilidades o ofensor, pois isso significa impunidade e não correção dos erros. Não é necessariamente reconciliar, nem restabelecer a situação anterior à ofensa, pois isso depende de uma relação dialética, envolvendo o ofendido e o ofensor ao mesmo tempo.
Muitas pessoas ofendem as outras e logo depois elas correm para pedir desculpas. “Perdoar não é desculpar. A desculpa é uma coisa, o perdão outra”, afirma o cardeal português, José Tolentino Mendonça.
Mas afinal o que é realmente o perdão?
Para o filósofo e psicólogo francês, Jean-Yves Lelup, existem três esferas na dimensão do perdão: a mente, o coração e o corpo. Lelup diz: “A alguém que nos feriu, que nos provocou sofrimento, podemos perdoar com nossa mente, com nosso coração; no entanto, o corpo leva muito tempo a perdoar. É muito difícil encontrar a inocência do corpo”. O nosso corpo é um é registro de memórias. O corpo é o último a esquecer, ou melhor, a perdoar. “Não perdoe cedo demais” pode se tornar uma espécie de chavão de autoajuda, mas não é. O corpo lembra, recorda de tudo o que vivenciou. Para que o perdão seja verdadeiro, autêntico leva tempo. Tempo é remédio. Tempo é ressignificar-se.
O perdoar não elimina os estigmas sofridos, mas nos permite dar um outro sentido ao que aconteceu, tomar consciência de que é necessário renovar a relação com o outro, para não o deixa-lo na condição de inimigo. Segundo ainda o Cardeal José Tolentino para conseguir perdoar eu tenho de abrir a minha relação com o outro à presença de Deus: “Deixar que Deus venha à minha história e que a sua lógica se faça minha”. Somente introduzindo Deus em nossas vidas, conseguimos a Graça libertadora do perdão.
Nos evangelhos Jesus nos ensina que ama pouco aquele a quem pouco se perdoa e nos apresenta um Deus misericordioso que conhece mais alegria por um pecador que retorna para ele do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão. Quando praticamos o perdão descobrimos o caminho que leva ao conhecimento de Deus, pois nos libertamos dos fardos do passado e passamos assim compreender a essência do mistério pascal.
*Artigo escrito em parceria com Eder Vasconcelos, que é franciscano, escritor, teólogo e filósofo. Reside em Manaus/AM.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje