Tempo de festejar e tempo de celebrar
Autor(a): Roberto Camilo Órfão Morais
Autor(a): Eder Vasconcelos*
A vida é marcada pelo ritmo do tempo. É como diz o velho sábio: “para tudo há um tempo...”. Carnaval tempo de alegria, principalmente após o triste e doloroso período da Pandemia do coronavírus. Festejar a vida em sua plenitude, algo alvissareiro para uma sociedade caracterizada pelo cansaço, sofrimento e desencontros.
A palavra carnaval quer dizer ‘festa da carne’, que em suas origens era uma festa religiosa. Às vésperas da Quaresma, antes de passar 40 dias em “abstinência de carne”, os cristãos empanturravam-se dela entre o domingo e a ‘Terça-Feira Gorda’. No Brasil, o carnaval veio através dos colonizadores portugueses, entre os séculos XVI e XVII, tornando-se nossa maior festa cultural, símbolo de nossa nacionalidade, senso de pertença de um povo.
É interessante observarmos que o período de carnaval e Quaresma se contrapõe e se vinculam, em um verdadeiro ritual de passagem, que infelizmente como muitos outros rituais, foi esvaziado de sentido pela modernidade em seus “ismos”, onde tudo virou mercadoria, no ato de consumir. Corroendo e profanando a beleza da vida, o consumismo transformou nossa existência em mera eventualidade.
Após os dias da festa da carne, de músicas e danças, vem a quarta-feira de cinzas, para nos lembrar que do pó viemos e para o pó voltaremos. É a consciência da transitoriedade da vida e a busca de um sentido que a ela transcenda. Os quarenta dias que se sucedem, o período Quaresmal, é marcado pela mística do silêncio, que segundo São João da Cruz “Deus só escuta o amor silencioso”. Além do silêncio, a espiritualidade quaresmal nos oferece ainda três grandes pilares para fortalecer a vida interior: oração, jejum e esmola (caridade). Esse tripé não está ultrapassado, fora de moda. Ele nos leva a olhar para o interior (íntimo) e o exterior (social). Silêncio, oração, jejum, esmola são meios, ou melhor, exercícios eficazes para o crescimento, o amadurecimento humano e espiritual integrado de cada cristão, de cada pessoa.
O silêncio como lugar da escuta de Deus é o lugar da reintegração e da reorientação da vida do ser humano perplexo, confuso, sem sentido, por fim, descentrado de si mesmo. Thomas Merton nos recordou que “existe uma única língua que se fala na cidade de Deus, a língua da caridade”. Aprender a falar a língua da caridade, é falar a linguagem do amor. Nesse contexto de reflexão entendemos a relevância desse período quaresmal para nos comprometermos com gestos concretos no combate à fome, sofrimento de milhões de brasileiros. Nesse sentido, a Quaresma deve despertar em nós o sentido profundo e profético da caridade social e pessoal. Dividir, compartilhar o pão com quem não tem não é tarefa só do governo, mas uma atitude de cada cristão que convertido abre o coração para dar, dar um pouco de si, um pouco de alimentos a quem mais necessita.
Que o bom Deus, Senhor da Vida e da história converta a nossa mente e o nosso coração para sermos homens e mulheres da partilha, da solidariedade e comprometidos com a caridade social.
*Artigo escrito em parceria com Eder Vasconcelos, que é franciscano, escritor, teólogo e filósofo. Reside em Manaus/AM.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje