Ainda fazemos guerra?
Autor(a): Pablo Matias
Para todos aqueles que se permitem contemplar, sob um viés analítico, os últimos acontecimentos do itinerário humano, podem até mesmo elevar a seguinte interrogação: "Evoluímos?”. Obviamente, faz-se necessário, devido a amplitude desse conceito – evolução-, delimitar um ponto de análise no qual possamos discorrer e tecer um caminho reflexivo. Permito-me, neste momento, compreender evolução como a capacidade do homem de viver em sociedade.
Ao vislumbrarmos os grandes pensamentos político-filosóficos do passado, como os de Locke e Hobbes, relacionados aos motivos da formação da sociedade, constata-se, em última instância, que a vida em sociedade – desprezando qualquer conjectura específica – é salutar para preservar harmonia, a ordem e os direitos inalienáveis de cada pessoa. Entretanto, vê-se a fragilidade dos sistemas sociais em preservar a própria integridade humana em toda a sua complexidade.
Após a Revolução Industrial, iniciada de forma específica com os ingleses, toda a compreensão de mundo é afetada devido ao repentino desenvolvimento tecnológico, outrora inimaginável, clareando, desta forma, todo o horizonte da humanidade. Contempla-se, neste momento, o progresso na medicina, nos meios de comunicação, na educação; enfim o homem era detentor de artifícios capazes de transformar o mundo em um lugar melhor. Porém, aquele que possuía, em si, toda a capacidade de transformar a natureza para o bem social, foi capaz de marcar, com sangue, a linha histórica da humanidade com o Holocausto.
Com este fato – o Holocausto – todo o progresso humano passa a ser questionado, pois como que tamanha barbárie pudesse ser cometida por aqueles que se diziam esclarecidos? Como que a dor, expressada nos olhos dos milhares daqueles “sem nomes” não era capaz de tocar a sensibilidade daqueles intitulados superiores? Como que o extermínio pôde ser aplaudido e defendido pelo único crime daqueles infelizes de nasceram diferentes do ideal hitleriano? Com isso, após a disseminação dos milhares de homens, mulheres e crianças, hoje sem nomes, sem histórias, vociferados pela maior animalidade executada por homens racionais, podemos perguntar: “Evoluímos?”
Emmanuel Lévinas, filósofo judeu do século passado, trabalha em seus escritos a necessidade do sujeito, no encontro com o outro, responsabilizar-se pelo cuidado daquele que está sob seus olhos. Nesse encontro é preciso deixar que o outro fale, expresse-se. Nessa relação, o primeiro a se pronunciar é o rosto do outro: “Não me mate!”. Não matar a sua voz, o seu pensamento, as suas particularidades é o primeiro imperativo categórico daquele que se deixa interpelar em sociedade.
De fato, pode se afirmar que o desenvolvimento do homem enquanto ser humano não pode ser aferido simplesmente por sua capacidade de modificar a natureza, mas também, e, de maneira especial, por sua capacidade de abertura ao outro, do diálogo com aquele que se posiciona diferente. A violência, que hoje paira sobre a humanidade, é consequência da incapacidade do sujeito de ser sensível ao outro, de querer violar suas particularidades, reduzindo-o a um formato aceito pelo pensamento predominante. É preciso aprender encontrar a beleza que habita na pluralidade. O outro não pode ser denotado como ameaça, objeto a ser exterminado, pelo contrário, é por meio da relação humana, do encontro dos diferentes, é que o homem consegue alcançar a plenitude daquilo que chamamos de humanidade
*esse texto não reflete, necessariamente, a opnião do Alfenas Hoje