Postado em terça-feira, 27 de dezembro de 2022
às 11:11
Um recorte populacional e a valorização da vida na velhice
Idosos com 70 anos ou mais apresentam altos índices de suicídio no Brasil.
A população com 70 anos ou mais indicou um aumento elevado nas taxas de suicídio nos últimos anos. Entre 2010 e 2019 essa faixa etária apresentou a média de 8,10 mortes por suicídio. Pelos dados apresentados acima, também é possível notar que a população entre 70 e 79 anos apresentou as mais altas taxas de suicídio nos anos de 2015, 2016 e 2017. Esse aumento assinala a necessidade do desenvolvimento de medidas que possam garantir o bem-estar dos idosos e que promovam a valorização da vida para essa população em questão.
A análise dos dados foi realizada pelo projeto de extensão “A Imaginação Sociológica e o Sul de Minas”, do curso de Ciências Sociais da Unifal (Universidade Federal de Alfenas), que recentemente analisou o aumento da população de idosos em Alfenas.
No mês de setembro, do ano de 2021, o Ministério da Saúde divulgou um Boletim Epidemiológico, em que se obteve acesso aos registros das tentativas e das mortes ocasionadas pelo suicídio no Brasil. Assinalou-se um alerta para o alto índice de pessoas que se suicidaram com mais de 70 anos. Nesse grupo populacional indicado foi possível constatar a média de 8,9 mortes por 100 mil habitantes nos últimos seis anos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que os idosos estão mais suscetíveis a atentarem contra suas próprias vidas. Dessa maneira, é essencial discutir a temática do suicídio e com uma atenção especial para a população idosa, principalmente para as pessoas com 70 anos ou mais. Isso pelo fato de que a faixa etária tratada apresenta indicadores preocupantes e que não são abordados na maioria dos debates acerca dessa temática.
Um dos sentimentos que acompanham a velhice é a solidão, esse sentimento pode desencadear pensamentos desgastantes sobre a realidade e um desgosto pela vida. O cenário pandêmico vivenciado por diversos países, incluindo o Brasil, agravou ainda mais a solidão idosa. Sentir-se solitário na velhice é algo que prejudica a saúde mental, por conseguinte, torna o ser humano vulnerável a desenvolver um quadro depressivo.
Com o passar dos anos, nossos corpos vão perdendo as habilidades que existiam na juventude, o que evidencia algo natural do processo vital e que faz parte da existência. Porém, com a perda dessas habilidades os idosos se sentem um peso para a sociedade, pela razão de não conseguirem realizar algumas atividades do seu cotidiano com a mesma desenvoltura que possuíam quando jovens.
A atividade do trabalho representa algo de extremo valor social para nossa cultura. Quando os idosos precisam aposentar-se ou parar de trabalhar por motivos de saúde, eles se sentem sem possibilidades e isolados socialmente. A perda dessa atividade causa um entristecimento com a vida para essa população, já que ela era exercida constantemente e era valorosa para a sociedade. Sendo assim, o processo de aceitação da nova rotina não é fácil, em particular, pela perda das relações sociais que existiam no ambiente do trabalho, no qual se podia conversar e distrair a cabeça.
Além do trabalho, a ausência da família em casa é um fator que contribui para a solidão idosa. As pessoas mais velhas não costumam ver seus entes queridos com tanta frequência, na maioria das vezes, não possuem uma companhia para desabafarem. Esse acontecimento está ligado ao ciclo de desapego dos filhos também, um ciclo de extrema dificuldade de aceitação do idoso, pelo motivo desses filhos estarem construindo suas próprias famílias e não serem mais tão presentes na vida de seus pais. O sentimento de abandono por parte de seus familiares é inevitável para a população idosa em grande parte das vezes.
A velhice é um futuro esperado para todos e precisa de um olhar especial. Falar sobre a questão do suicídio que ocorre dentro do grupo populacional dos idosos é necessário para apontar meios que possam garantir a saúde dessa população. Os idosos precisam sentir-se acolhidos e confortáveis socialmente, nos municípios em que vivem principalmente. Envelhecer é um fato do ciclo da vida, porém, a negligência com a velhice não precisa ser um fato. O grupo populacional tratado necessita ser amparado por políticas públicas e pela sociedade, é essencial o desenvolvimento de um pensamento sobre a velhice como uma fase da vida a qual todos podemos estar um dia. Assim, qualquer discussão que esteja relacionada a essa fase é algo que pode envolver, de certa forma, nosso futuro e a capacidade de nos sentirmos acolhidos socialmente.
Em Alfenas, a Unifal desenvolve um programa, Universidade Aberta à Terceira Idade (Unati), que articula ações para atender ao grupo populacional com idade igual ou superior a 60 anos, visando promover a qualidade de vida. São atividades física, cognitiva e motora, bem como exercitar o bem-estar mental e emocional, que estimulam os participantes a exercer autonomia no viver, ter qualidade de saúde corporal e mental na perspectiva da pessoa idosa. Confira mais clicando nesse link
A próxima matéria a ser publicada pelo projeto de extensão “A Imaginação Sociológica e o Sul de Minas” ainda terá como tema a população idosa, ela irá apontar como esse grupo populacional lida com a tecnologia e os preconceitos deparados em relação ao uso dos aparatos tecnológicos.
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