Postado em quarta-feira, 27 de abril de 2022 às 09:38

Redefinindo o que é saúde mental

Especialistas propõem uma abordagem mais abrangente que contemple fatores biológicos, psicológicos e sociais


No domingo, a coluna foi sobre como o excesso de estímulos vem nos tirando do eixo. Hoje, decidi ampliar a discussão para trazer à baila um debate que ganha corpo entre especialistas: está na hora de redefinir o que é saúde mental, levando em conta uma abordagem que abranja fatores biológicos, psicológicos e sociais. Resumindo, temos que ser vistos sob uma ótica biopsicossocial. Times interdisciplinares do Massachusetts General Hospital e da Faculdade de Medicina de Harvard estão desenvolvendo um novo tipo de intervenção que seja, ao mesmo tempo, focada no indivíduo e holística, para contemplar todas as esferas de sua existência. O objetivo? Prevenir as doenças mentais em vez de apenas tratar os sintomas; promover a funcionalidade do paciente, ou seja, dar ferramentas para que a pessoa continue integrada à sociedade; e melhorar sua qualidade de vida.

Essa é uma mudança significativa num campo que, nas últimas décadas, encarou as enfermidades neurológicas e psiquiátricas exclusivamente do ponto de vista biomédico. O espectro que abrange as doenças mentais tem provocado um aumento substancial do número de mortes e incapacidade no mundo. Foi o que levou os pesquisadores, autores de artigo publicado no NEJM Catalyst, a propor uma abordagem multidimensional e multidisciplinar para substituir a atual. O cérebro é um órgão de enorme complexidade: controla nossos pensamentos, memórias, emoções, habilidades motoras e personalidade. Um cérebro saudável é a chave para viver por mais tempo e com propósito, por isso é tão urgente inovar nessa área. Somente nos EUA, questões relacionadas à saúde mental impactam 100 milhões de americanos e custam 800 bilhões de dólares por ano.

O conceito do modelo biopsicossocial, que analisa não apenas o peso das questões biológicas, mas também das psicológicas e sociais para o desenvolvimento de uma doença, foi criado em 1977 pelo psiquiatra George Engel. No entanto, sua utilização não teve o alcance que deveria. Fatores como acesso ao sistema de saúde, relacionamentos, resiliência e preconceitos ou estigmas, entre outros, não eram computados como relevantes para a saúde do cérebro. Vale acrescentar que o termo expossoma foi cunhado em 2005 para designar a totalidade das situações a que o ser humano fica exposto durante a sua trajetória, da concepção à morte. Ele se baseia em três domínios, começando pelo interno, que é exclusivo do indivíduo: idade, fisiologia, genoma. Os outros dois são as condições externas gerais (socioeconômicas e sociodemográficas) e as externas específicas, como dieta alimentar, ocupação, estilo de vida. São conceitos complementares.

Uma mudança dessa magnitude exigirá uma política pública de cuidados que proteja o cidadão do útero ao fim da existência. A construção de “fatores de proteção” incluiria campanhas para um estilo de vida mais saudável, apoio para deixar comportamentos de risco, desenvolvimento de habilidades de adaptação e superação, atenção primária para mapeamento precoce de problemas. Promover a funcionalidade do paciente é um caminho para diminuir o estigma e melhorar o bem-estar emocional e a independência das pessoas. Não se trata de uma utopia. Na Finlândia, em 2009, foi realizado o primeiro estudo baseado na intervenção biopsicossocial – que incluía exercício, dieta, atividade social, monitoramento de riscos cardíacos e treino cognitivo – com resultados positivos. Outras iniciativas, como o Barcelona Brain Health, na Espanha, e o APPLE-Tree, no Reino Unido, estão em curso. Que rendam frutos!

FONTE: G1 GLOBO



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