Postado em sábado, 21 de março de 2020
às 16:04
Nem todo álcool funciona contra o coronavírus; saiba as diferenças
Ao lado da mistura de água e sabão, o álcool é um grande aliado para conter o novo coronavírus. Em gel ou líquido, ele limpa as mãos quando não é possível lavá-las e desinfeta objetos e superfícies —o vírus da covid-19 sobrevive até três dias no ambiente. Mas é importante saber que nem todo álcool é eficiente, por conta da concentração da substância.
Existem vários tipos de álcool. Os mais comuns são o etanol, que todo mundo compra no supermercado para usar no dia a dia, e o isopropanol, mais conhecido por álcool isopropílico, usado na indústria e em laboratórios, mas que pode ser encontrado em lojas de informática (ele é muito usado na limpeza de placas de computador).
"Para matar ou inativar microorganismos, o etanol é eficiente, mas apenas se usado em concentrações entre 60% e 80%", explica Laura de Freitas, doutora em biociências e biotecnologia pela Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho).
Ou seja: álcool puro demais ou diluído demais não funciona para matar o vírus.
- Não funciona: álcool 46% que costumamos usar para a limpeza da casa
- Funciona: álcool para churrasco e lareiras tem concentração de 80% (pode irritar a pele)
- Funciona: álcool gel higienizador de mãos com concentração de 70%
Para saber a concentração do álcool, olhe a embalagem. A informação geralmente está escrita assim: 46º INPM. A sigla se refere a Instituto Nacional de Pesos e Medidas e o número diz a proporção da mistura entre água e álcool no produto (46% de álcool puro e 54% de água).
Ok, que o álcool diluído não seja eficiente faz sentido. Mas sabia que isso também vale para álcool muito concentrado?
Encontrar álcool líquido com concentração entre 60% e 80% à venda não é uma tarefa muito simples —especialmente durante a pandemia. Não tente mudar a concentração do álcool etanol ou de qualquer outro tipo de álcool sozinho, isso pode deixar a substância ineficiente ou causar danos à saúde.
Neste caso, a recomendação é usar sabão, que é a forma mais eficaz e barata de combater o vírus.
Para desinfetar superfícies, você também pode usar produtos de limpeza como:
Água sanitária
Desinfetantes em geral
Limpadores multiuso com cloro ou álcool
Detergente
Sabão
Como o álcool acaba com o vírus?
O álcool precisa entrar em contato com os vírus e as bactérias. A partir daí, podem ocorrer dois processos: a dissolução de lipídios (gordura) e a desnaturação proteica, isto é, a exposição de proteínas a meios diferentes dos quais elas foram produzidas, gerando um efeito parecido ao de uma coagulação.
"No caso do novo coronavírus, assim como outros, como o da gripe, há uma capa de gordura chamada envelope, que é dissolvida pelo álcool ou por detergente. Uma vez que isso ocorre, o vírus fica totalmente inativo, não consegue mais infectar ninguém", explica Freitas.
Já o tempo necessário para que o álcool faça efeito varia de acordo com a sua concentração. "No caso do álcool com concentração próxima aos 70% [a do álcool gel], o vírus leva entre 30 segundos e um minuto para ser inutilizado. No caso da limpeza das mãos, é o tempo suficiente para passar o produto e esperar evaporar".
Moléculas frágeis
A diferença entre etanol e isopropanol está na construção da molécula: o primeiro tem uma molécula composta por dois átomos de carbono, seis de hidrogênio e uma de oxigênio, enquanto o segundo tem três átomos de carbono, oito de hidrogênio e uma de oxigênio.
"Em ambos os casos, o álcool não sai puro e tem que ser destilado para chegar na concentração necessária", explica Luis Geraldo Cardoso dos Santos, professor de Química do Instituto Mauá de Tecnologia.
Uma das principais características do álcool é a rapidez com a qual ela evapora. Não é exclusivo, mas é algo marcante da substância.
"A maioria dos líquidos evapora. Recebendo o calor do ambiente, as interações entre as moléculas são ´quebradas´ e elas saem do estado líquido. Como as interações dos álcoois são mais fracas que a da água, eles evaporam mais facilmente na temperatura ambiente", explica Santos.
Se você já derramou álcool na pele, sabe que a evaporação causa uma sensação de frescor. É a evaporação retirando calor da superfície. A mesma coisa acontece quando a água ou o suor evaporam na pele, mas no caso do álcool, como é mais rápido, a variação de temperatura é mais perceptível.
Fonte: Tilt
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