Postado em segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020
às 06:22
Transfusões de sangue podem ter grandes complicações
Embora as transfusões de sangue salvem vidas e devam sempre ser incentivadas, elas não estão livres de complicações.
Embora as transfusões de sangue salvem vidas e devam sempre ser incentivadas, elas não estão livres de complicações. Quadros alérgicos, de leve a grave, contaminações bacteriana, viral ou por parasitas, e até mesmo a incompatibilidade transfusional (quando por algum equívoco a pessoa recebe doação de sangue diferente do seu) são alguns dos riscos associados às transfusões sanguíneas. Contudo, é a chamada Lesão Pulmonar Aguda Relacionada à Transfusão – TRALI, na sigla em inglês – que vêm preocupando médicos hematologistas ao redor do globo.
Com evolução rápida, podendo ocorrer durante ou até seis horas após o recebimento de sangue, a TRALI ainda pouco conhecida e, por vezes, confundida com outras complicações das transfusões, é hoje a principal causa de morte associada à transfusão, respondendo por 10 a 15% das ocorrências.
“A TRALI ainda é pouco conhecida da classe médica mundial, principalmente no Brasil, o que faz com que seja pouco relatada nos órgãos de controle, contribuindo para uma subnotificação. Além disso, ela costuma ser confundida com a TACO, que é uma sobrecarga pulmonar do volume transfundido, com quadro clínico muito parecido”, explica o hematologista Antônio Fabbron, diretor geral do Diagnósticos Brasil e professor da Faculdade de Medicina de Marília.
O que é a TRALI, afinal?
Reconhecida como entidade clínica em 1985, a TRALI é uma complicação grave relacionada às transfusões sanguíneas, sobretudo aquelas que contêm mais plasma. Isso porque no plasma do doador pode haver a presença dos anticorpos anti-HLA (Antígeno Leucocitário Humano) e anti-HNA (Antígeno Neutrofílico Humano), e seus subtipos, que quando encontram antígenos correspondentes na pessoa que está recebendo a doação, podem levar a uma ruptura dos capilares pulmonares, gerando um quadro agudo de edema de pulmão.
No geral, a TRALI ocorre entre uma e duas horas após o recebimento do sangue. Porém, há casos em que os pacientes demoram até seis horas para apresentar os sintomas. Clinicamente, a pessoa acometida pela doença costuma ter um quadro agudo de falta de ar, queda de pressão e febre.
Vale lembrar que nem todas as pessoas desenvolvem a Lesão Pulmonar Aguda Relacionada à Transfusão. A incidência é maior em pacientes com algum tipo de infecção, que passaram por cirurgia cardíaca, de tórax, ou com câncer. “O indivíduo já está em uma condição de base ao receber o anticorpo”, ressalta Fabbron. O diagnóstico da TRALI é feito por meio de Raio-X do tórax, pela constatação de queda na saturação de oxigênio do sangue e pela ausência de problemas cardíacos concomitante. O tratamento consiste na interrupção da transfusão e oferta de oxigênio por cateter nasal ou por respiradores após intubação traqueal.
Uma luz no fim do túnel
Atualmente, sabe-se que pessoas que já receberam transfusão e, principalmente, mulheres com um ou mais filhos, têm maior probabilidade de apresentarem os anticorpos desencadeadores da TRALI. No caso das mulheres, a frequência aumenta conforme o número de gravidezes, visto que o contato do sangue fetal com o materno faz com que a mãe possa formar anticorpos.
Dessa forma, hoje, a principal maneira de prevenção da TRALI se dá por meio dos questionários que os doadores de sangue preenchem antes da doação. Por ele, é possível identificar os grupos com maior prevalência dos anticorpos anti-HLA e anti-HNA e assim evita-se a transfusão do sangue doado por este grupo. Quando o sangue doado apresenta um risco maior de levar a TRALI, pode-se direcionar a doação para outra finalidade, como a produção de hemoderivados, a exemplo do Fator VIII de Coagulação para hemofilia.
Porém, o rastreamento pode ser mais preciso com a adoção de um teste rápido desenvolvido pela One Lambda e comercializado exclusivamente pela Biometrix Diagnóstica. Trata-se do kit LABScreen® Multi, que é capaz de realizar a triagem de anticorpos contra antígenos HLA de Classe I e II e antígenos HNA.
“O produto já tem registro nos Estados Unidos, onde a utilização está se tornando rotineira. Aqui, já temos o registro na ANVISA, mas o teste ainda não é contemplado pelo SUS, nem em laboratórios particulares. Apesar disso, acredito que com base na provável frequência dos anticorpos na população de doadores, a tendência é que seja adotado rapidamente”, explica Marcelo Mion, gerente do laboratório da Biometrix.
Segundo Mion, o teste utiliza uma forma de diagnóstico pela metodologia molecular, que avalia o soro e verifica a presença dos anticorpos em uma triagem para doação. Na avaliação dele, a adoção do teste em larga escala facilitará o desenvolvimento de estratégias de prevenção da TRALI, além de aumentar o número de doadores.
Fonte: PanoramaFarmaceutico
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