Postado em quarta-feira, 9 de outubro de 2019
às 21:09
População cresce mais que as vagas de emprego?
A resposta depende da forma como se analisa os dados: proporcionalmente ou em números absolutos. No caso de Alfenas, a resposta seria não, em termos proporcionais, e sim, em números absolutos.
Entre o período de 1991 e 2010, a população total do munícipio de Alfenas teve um aumento de 40%. Já a população economicamente ativa, que compreende às pessoas que têm entre 15 e 69 anos, sofreu um acréscimo de quase 60%. O mercado de trabalho, mais especificamente as vagas de emprego formal, aumentou mais de 139%, durante o mesmo período. Ou seja, em termos proporcionais o mercado de trabalho cresceu muito mais que a população. O emprego formal é aquele com registro em carteira e, logo, com os diretos trabalhistas garantidos, como: férias, décimo terceiro, fundo de garantia por tempo de serviço, dentre outros. Os censos são realizados, normalmente há cada dez anos.
Entretanto, em números absolutos, a população total do município, em 1991, era de 52.700 pessoas, enquanto o mercado de trabalho apresentava 7.111 vagas ocupadas. O restante da população, 45.589 pessoas, não estava empregada no mercado formal de trabalho. O ano de 2010 apresenta uma diferença ainda maior: 56.765 pessoas não estavam vinculadas ao mercado formal de trabalho. Ou seja, em números absolutos a população cresceu mais que as vagas do mercado de trabalho formal.
É possível notar que, apesar de os dados apontarem crescimentos proporcionais da população e dos empregados no mercado formal de trabalho no município, eles também indicam que pouco mais de 21% das pessoas em idade ativa não estava empregada formalmente, no ano de 1991. Em 2010, o número de vagas conseguiu abranger quase 31,5% das pessoas em idade ativa. Deste modo, é possível afirmar que apesar do crescimento do mercado de trabalho formal não houve a absorção relativa ao crescimento da população economicamente ativa da cidade.
Os dados apresentados foram levantados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), organizada pela Secretaria de Trabalho, do Ministério da Economia, e dos Censos demográficos, realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O fato de se utilizar dados dos anos de 1991, 2000 e 2010 se deve à possibilidade de comparar a proporção da população empregada formalmente, obtida por informações anuais da Rais, com a população total e em idade ativa do município, divulgada pelos censos. Está previsto para o próximo ano a realização do censo demográfico que é de vital importância para se analisar o que tem acontecido na relação entre as vagas de emprego e o aumento populacional na última década.
Vale ressaltar que para o ano de 2017, último em que há dados da Rais disponíveis, o número de empregados formais na cidade era de 20.665. Crescimento de quase 18% em relação ao ano de 2010. Em relação à população, a estimativa, baseada em cálculos do IBGE, era de 79.707, ou seja, um crescimento inferior a 8%. Em números absolutos o mercado abriu 3.646 vagas e a população teria aumentado em 5.933 pessoas, entre 2010 e 2017.
Para onde vão os outros trabalhadores que não são atuam no mercado de trabalho formal da cidade? Por que não há vagas de emprego formal para toda a população?
Responder questões como essas indica a necessidade de um conhecimento mais geral sobre a cidade, em relação ao estado e ao pais. Para tanto, algumas áreas do conhecimento como a Sociologia se propõe ao estudo de temas relacionados às relações sociais, mais especificamente às formas como os grupos se relacionam. O mercado de trabalho é um desses temas e é composto de diversos grupos que podem ser estudados separadamente ou no todo.
Primeiramente, como adverte um importante sociólogo americano Wright Mills, devemos compreender que somos membros de grupos e, dessa forma, compartilhamos de questões e situações que envolvem a todos. Estudos sociológicos apontam para uma realidade global ao longo das últimas décadas com a crescente diminuição proporcional do mercado formal de trabalho, em relação à população economicamente ativa, em virtude dos processos de substituição dos trabalhadores pela tecnologia; da diminuição da renda das famílias, que leva mais pessoas a procurarem trabalho, o que consequentemente gera a busca por mecanismos de obtenção de renda no mercado informal como meio de subsistência. Em Alfenas, como demonstram os dados apresentados, não é diferente.
Um exemplo de grupos que podem ser analisados separadamente se dá pelas diferentes faixas etárias. Cada grupo de idade apresenta formas distintas de inserção e de ocupações, pois o mercado de trabalho formal não comporta totalmente a proporção de trabalhadores economicamente ativos, o que ocasiona processo de seleção das vagas, que envolvem: melhor capacitação, maior escolaridade e experiência nas funções. Nesse sentido explica-se, em parte, a maior dificuldade dos jovens em obter emprego. Em Alfenas, quais as consequências do descompasso entre o crescimento populacional e a expansão do mercado de trabalho, para os jovens da cidade? Eles se situam à margem do mercado? Se sim, quais as estratégias encontradas por eles para encontrar um emprego?
Os dados foram coletados e analisados pelo projeto de ensino, pesquisa e extensão da Unifal, “A imaginação sociológica e o sul de Minas”, com o objetivo de conhecer melhor o mercado de trabalho na cidade de Alfenas. Os resultados obtidos aqui, bem como as questões apresentadas acima, serão discutidos posteriormente com estudantes das escolas estaduais da cidade.
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