Postado em sábado, 8 de outubro de 2016
Prefeito eleito diz que população não ouvirá que dívida é problema para “não fazer as coisas”
O prefeito eleito Luiz Antônio da Silva (Luizinho) diz que os projetos necessários serão implantados e que a dívida não será um empecilho.
Alessandro Emergente
Eleito no último dia 2 de outubro, com 17,5 mil votos, o futuro prefeito de Alfenas, Luiz Antônio da Silva (Luizinho/PT), concedeu uma entrevista exclusiva ao Alfenas Hoje na última quarta-feira. Ele falou sobre os principais projetos a serem implantados e da situação financeira que espera encontrar a partir de 1˚ de janeiro, quando retorna ao comando da prefeitura após quatro anos.
Em uma entrevista de cerca uma hora, concedida ao jornalista Alessandro Emergente, editor do AH, o futuro prefeito disse que a situação financeira do município não será um impedimento para que coloque em prática os projetos sociais.
Assim como já havia dito durante a campanha eleitoral, afirmou que a dívida fundada – hoje cerca de R$ 46 milhões - é administrável e que a população não ouvirá que isso será empecilho para realizar os projetos necessários. “Em nenhum dia do meu governo, você vai me ouvir dizer que dívida é problema para não fazer as coisas”, diz de forma taxativa.
Luizinho aponta a saúde como principal problema, mas coloca a segurança pública como o principal desafio. Para ele, uma das ações nessa área será tentar recuperar pessoas dependentes de drogas e que acabam praticando crimes. Para isso, buscará uma parceria com o Governo de Minas Gerais.
Batizado durante a campanha eleitoral como “Nova Vida”, o programa contempla a formação de uma empresa, sem fins lucrativos, pare reinserção dos dependentes químicos em tratamento no mercado de trabalho.
Luizinho também fala sobre o processo de transição de governo. Nesse aspecto, diz que o diálogo começou de forma respeitosa e elogia a postura do prefeito Maurílio Peloso (PDT), o qual afirmou tê-lo recebido com “espírito público”. Afirma ainda que é preciso direcionar-se para o futuro, deixando de lado as divergências partidárias. Confira a entrevista:
Alfenas Hoje – Após a euforia da vitória, como você analisa o resultado das urnas?
Luizinho – Para nós foi dentro do esperado. Ao contrário do que muitos analisam, a divisão (de candidatos) prejudicou mais a nós do que o adversário. Porque tanto o Eneias (Rezende/PRTB) quanto o Marcos (Marcos Eduardo de Andrade/Dr. Marcos do PSB) tiraram votos nas nossas bases eleitorais. Eles correram na mesma raia nossa. O Marcos fez campanha na mesma área que é nossa base (eleitoral) como no Pinheirinho, nos apartamentos (conjuntos populares no Jardim São Carlos), no Campos Elíseos. O Enéias também teve voto em áreas que está nossa base eleitoral, tanto que PRTB e PSH estavam na nossa base (de apoio). Mas fizemos uma aliança muito forte com o povo, uma aliança verdadeira. Tínhamos história para propor uma aliança (com o povo) e isso nos garantiu a vitória.
Alfenas Hoje – Durante os 8 anos que o PT esteve à frente da Prefeitura de Alfenas havia um cenário político e econômico favorável. Mas agora o PT não é mais protagonista no cenário nacional e o país vive um momento econômico que não é favorável. Então como será esse novo mandato? De dificuldades?
Luizinho – O Brasil é um país de muitas oportunidades. Para a prefeitura o recurso não é um problema. Tem o dinheiro (recursos para os municípios), você precisa saber acessar. Eu já estive na Caixa Econômica Federal conversando e vejo que não teremos dificuldades de acessar os recursos dos programas (federais) porque são programas republicanos. Mesmo que tivesse alguma retaliação, isso é muito periférico. Num país desse tamanho, uma prefeitura como Alfenas, ninguém vai retaliar politicamente a vinda de recursos. Não tem nem como haver retaliação por ser de outro partido. Por outro lado, nós temos o governo do Estado que está alinhado conosco, nós temos pontes bem sólidas com o governador Fernando Pimentel. Tivemos (no mandato anterior) muitos recursos do governo federal e agora temos a oportunidade de acessar recursos junto ao governo do Estado.
Alfenas Hoje – Não considerando a questão política, mas sim a econômica. Há uma escassez de recursos no orçamento.
Luizinho – Isso também não é um fato. Se pegarmos Alfenas como exemplo ainda existem R$ 10 milhões em recursos (federais) para serem utilizados.
Alfenas Hoje – São recursos que estão parados?
Luizinho – Parados! Que eu deixei. Recursos garantidos no orçamento geral da União a fundo perdido. São os projetos aprovados que eu deixei para execução.
Alfenas Hoje – São recursos para custeio de programas ou para execução de obras?
Luizinho – São para obras de drenagem, de reformas de casas, de praças. São esses tipos de recursos financeiros.
Alfenas Hoje – Há a exigência de contrapartida do município?
Luizinho – Muito pouco.
O futuro prefeito defende que o poder público tem que garantir o básico para o cidadão: saúde, educação e moradia (Foto: Alessandro Emergente)
Alfenas Hoje – Sobre UPA (Unidade de Pronto Atendimento) foi lançado no seu governo a pedra fundamental, mas o atual governo não deu prosseguimento ao defender que era inviável. Essa oportunidade passou ou é possível recuperar esse projeto?
Luizinho – É possível. Já falei com o Geraldo Thadeu, que é o representante do governo de Minas em Brasília. Já agendamos uma reunião em Brasília e vou tentar destravar alguns projetos no Ministério das Cidades e também protocolar o pedido para uma nova modalidade do Programa Minha Casa, Minha Vida, além de resolver a questão da UPA no Ministério da Saúde.
Alfenas Hoje – Sobre a questão da moradia e urbanismo, você sempre defendeu a necessidade de ocupar os “vazios urbanos”. Nesses últimos quatro anos há, no entanto, uma série de loteamentos aprovados. Diante desse contexto, o que será feito?
Luizinho – Quando você faz um loteamento significa que a cidade está mais pobre porque as pessoas não têm condições de adquirir 100% a moradia. Quando há dinheiro disponível, as pessoas compram um terreno em um bairro já estruturado ou demoli uma casa mais velha e constrói. Então, a pessoa tem o dinheiro para o terreno. Quando a cidade começa a ficar sem recursos, aí surge a necessidade de loteamentos e as pessoas financiam o terreno e a construção (do imóvel). Coisa que não acontece nos “vazios urbanos”. Quando não tem dinheiro para comprar o terreno à vista, surge a necessidade dos loteamentos. Isso fez que surgissem vários loteamentos e agora temos que cuidar para que esses locais tenham infraestrutura, antecipando-se a possíveis problemas.
Alfenas Hoje – Muito se falou em dívidas durante a campanha eleitoral. Houve um aumento de R$ 39 milhões para R$ 46 milhões no valor da dívida fundada. Qual é a realidade financeira que você espera encontrar?
Luizinho – A mesma realidade que eu deixei, mas com a dívida um pouco maior. Mas isso não é um problema. No capitalismo, ter contas a pagar é normal. É sinônimo que a cidade está investindo. Não vejo dificuldades para administrar (essa realidade). Em nenhum dia do meu governo, você vai me ouvir dizer que dívida é problema para não fazer as coisas.
O Restaurante Popular deve ganhar música ao vivo como política de estímulo a cultura e de ampliação do espaço de convivência (Foto: Alessandro Emergente)
Alfenas Hoje – O Restaurante Popular quase fechou nos últimos anos com a queda de subsídios do município. O preço da refeição para o consumidor aumentou e a frequência caiu. Qual será a atenção dada pela sua gestão ao Restaurante Popular?
Luizinho – Nos vamos retomar o que era antes. Não é só um espaço para alimentação, mas também um ponto de encontro das várias tribos da cidade. A cidade tem que promover esses pontos de encontro para ser mais harmonizada e ter mais solidariedade entre as pessoas. Uma perna dessa questão do Restaurante Popular é sua viabilidade financeira e a outra é em relação a esse espaço de convivência. Eu vou melhorar o Restaurante Popular colocando música ao vivo durante o almoço, estimulando os artistas locais. Mesmo que você tenha que subsidiar o Restaurante Popular, quanto vale investir em cultura, por exemplo? Isso é investimento. Não se fala em prejuízo quando se tem um ganho cultural e social.
Alfenas Hoje – O PT de Alfenas retornará a prefeitura em uma “dobradinha” com o PCdoB, um aliado histórico no cenário nacional. O que isso significa? Um governo mais ideológico, de esquerda?
Luizinho – Eu tenho uma visão de esquerda, que é a da solidariedade, que garante a educação pública de qualidade, a saúde de qualidade, a habitação de qualidade. O Estado tem que garantir isso. Você tem que garantir a toda a sua população escola, moradia e saúde. E não segregar ninguém. É preciso estimular mais a solidariedade do que a competitividade. A sobrevivência (do indivíduo) o Estado tem que garantir.
Alfenas Hoje – Quando se remete ao retorno ao comando da prefeitura, logo as pessoas tendem a lembrar de projetos que foram executados. Mas esses quatro anos fora do poder também faz refletir sob outro ângulo as questões relacionadas a gestão e a concepção de governo. O que será diferente?
Luizinho – Eu não diria diferente. Estou mais convicto de que esses programas que nós criamos precisam ser aprofundados e ampliados. Socialmente, eu pude ver que aquilo que agente fez é o caminho certo. Claro que corrigindo um erro aqui, outro ali.
Alfenas Hoje – O programa Cidade Escola retornará?
Luizinho – O programa Cidade Escola vai voltar e será um dos mais importantes ao lado do programa de recuperação dos usuários de drogas.
Alfenas Hoje – Qual será o principal desafio na sua próxima gestão?
Luizinho – A saúde é o principal problema, mas a segurança pública é o mais difícil de resolver. A violência está vinculada ao problema das drogas e 80% dela é municipal. É gente daqui, com família daqui, que comete crimes. E reside, normalmente, no problema das drogas. Recuperar um usuário de drogas é um desafio muito grande. Vou criar um programa, que terá um ano e meio de tratamento. O recuperando passa, durante seis meses, por um leito com retaguarda psiquiátrica através de um hospital custeado pelo governo estadual. Depois, por uma empresa, que vamos criar, para que o recuperando fique trabalhando por um ano sob acompanhamento. É um programa compartilhado com o governo estadual. O Estado tem uma verba para custear as clínicas.
Alfenas Hoje – Como está o processo de transição de governo?
Luizinho – Eu nomeia o Eliacim (do Carmo Lourenço) como coordenador do processo de transição. Tive reunido com o prefeito Maurílio Peloso e alguns de seus secretários. Foi um diálogo bastante amistoso, com o interesse público sobrepondo. Um diálogo de estadistas. Devo ressaltar a postura do prefeito que foi de abertura e de muito espírito público.
Alfenas Hoje – E sobre a equipe de governo? Já há algo definido?
Luizinho – Nós estamos conversando. Não tem nenhum nome definido. .Durante a transição, nos vamos amadurecendo (a montagem da equipe) e vamos anunciar mais para o final do ano.
Alfenas Hoje – Alguma consideração final?
Luizinho – Quero dizer que passada as eleições, a cidade tem que entender que a disputa acabou. Há um projeto escolhido pela população. O prefeito eleito é o prefeito de todo alfenense, de toda a cidade. Se o governo fizer algo errado, é importante a crítica. Mas se estiver desenvolvendo os projetos não existe o porquê de uma resistência. É preciso olhar para o para-brisas e não para o retrovisor. Com relação ao atual governo, eu respeito. Ele (Maurílio Peloso) cumpriu o seu papel enquanto prefeito.
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