Postado em 6 de junho de 2022

Civilização ou barbárie?

Autor(a): Roberto Camilo Órfão Morais

 Das muitas e boas lembranças de minha infância, recordo com saudade, o momento em que toda família se reunia para rezar o terço, exatamente as 18 horas. Com a seriedade de uma criança quando brinca, ouvíamos minha mãe solenemente anunciar os mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos.

Das intenções do terço, estava sempre presente a suplica para a conversão da Rússia, afinal nos anos 70, as orações eram voltadas para necessidade de se derrubar a chamada cortina de ferro, para que se evitasse a terceira guerra mundial.

Recentemente me vi rezando, convocado pelo Papa Francisco, novamente pela Rússia, só que agora pela paz na Ucrânia, nessa descabida guerra. Hoje não se trata de uma polarização entre duas potencias, como na Guerra Fria, mas de um criminoso conflito, em um mundo globalizado. Mundo dirigido por interesses, ditados pelo mercado, onde todos nos tornamos de consumidores à produtos. É a modernidade liquida, na expressão do sociólogo Sygmunt Bauman.

Para filósofa e psicóloga Viviane Mosé, estamos num momento de crise da civilização gravíssima, onde já está ocorrendo a terceira guerra mundial, travada no campo da informação, “A guerra real em que o poder está se transformando e mudando de lugar é na informação” e esclarece "Um a um de nós somos disputados como produto já que as ordem piramidais caíram e não temos mais uma TV mandando em todo mundo".

Para diferentes pensadores, vivemos em um momento de transição em que é preciso buscar uma nova ordem mundial, baseada nos valores democráticos, entendidos como um sentido geral da vida humana, bem como um estado de espírito.

Em particular no Brasil, assistimos ao um discurso de ódio, através de uma rede de fake News, usadas para torpedear os corações e mentes dos brasileiros, mergulhados em uma crise econômica, social, sem precedente. Tendo como resultado o aprofundamento das desigualdades, o crescimento da fome e miséria.

O momento histórico exige de todos nós lucidez, para que possamos superar essa onda de estupidez. Nas palavras de Viviane Mosé as pessoas buscam, “alguma coisa que produza vida e que esteja calcado numa coisa real”, e nada mais real, viva do que a própria democracia.

A democracia entendida como fim ultimo e não como meio, para se atingir objetivos totalitários. É relevante sempre registrar, que não é possível existir democracia sem liberdade, igualdade, participação, solidariedade e diversidade, que é reconhecer e admitir o diferente, saber que se pode ser igual ao outro, mas diferente. Por isso a tolerância é uma virtude moral fundamental nas relações sociais.

Segundo o grande pensador cristão católico Jacques Maritain, “a democracia está ligada ao cristianismo, e que o impulso democrático surgiu na história humana como uma manifestação temporal da inspiração evangélica”. Portanto é inadmissível defender ditaduras, guerras, genocídios, sejam elas vinculadas a qualquer espectro ideológico.

Em meio a tantos arroubos, desejos ditatoriais, penso que somos chamados, por uma questão de consciência, entendida como a presença de nós em nós mesmo, a defender a dignidade da pessoa humana, em todas as suas dimensões, em uma concepção integral, que é inclusive a alma da democracia, razão de ser de uma civilização.


** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje

Roberto Camilo Órfão Morais
Professor
Professor de Ciências Humanas do Instituto Federal Sul de Minas - Campus Machado.



Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com tal monitoramento. Informamos ainda que atualizamos nossa

Estou de acordo