Postado em 25 de agosto de 2019

O macro, o micro e a impressão de cada um, ou uma síntese histórica do que somos

Autor(a): Humberto Azevedo

Na mesma semana em que o Congresso Nacional oficializou o óbvio mais uma vez, de que não somos uma nação para se levar a sério – como disse na década de 70 o então presidente francês, Charles de Gaulle, numa “picuinha” entre os dois países sobre a pesca de lagostas no que era considerado, ou não, o mar territorial brasileiro, com a adoção do recesso parlamentar mesmo sem a permissão para isso na letra fria da lei, o país se vê discutindo se o filho número dois do presidente da República pode, ou não, se deve – ou não – ser indicado e aceito para assumir o posto de embaixador do país na até então maior nação do planeta, os Estados Unidos da América (EUA).

É certo que toda essa conversa mole de incluir assuntos bobos e idiotas na discussão da vida nacional tem como objetivo esconder o principal. Enquanto o país discute de maneira torpe e tosca a indicação de um filho do presidente brasileiro para uma embaixada e esse sustenta que por falar inglês, ter feito intercâmbio estudantil e ter fritado uns hambúrgueres na terra do “Tio Sam” são razões que o credenciam a assumir tal cargo com tamanha envergadura, isso é feito para desfocar a atenção binária da sociedade daquilo que interessa para os novos que já parecem velhos governantes. Seja a reforma da Previdência que propiciará o boom do sistema previdenciário dos bancos, seja a liberação de armas, seja a venda à conta-gotas da nossa maior empresa, as privatizações e tudo mais que esse governo tem como objetivo atingir e alcançar.

Bolsonaro foi a única forma encontrada pela direita para derrotar uma esquerda que chegou ao poder em 2.002 e que não dava mostras de perder eleições. Para que isso acontecesse era preciso, ou repetir 1.964 – ou destruir a economia e oferecer a patuleia enfurecida um discurso oposto, mas que não parecesse o mais do mesmo. E isso foi feito. Na cara de todos, à luz do dia e com um certo transe que embriagou alguns que ajudaram a formar uma certa maioria e que propiciou o caldo ao qual chegamos. O problema é que o caldo quase secou, está sem cor, sem gosto e com um problema sério que não basta jogar água para aumentar o caldo e restabelecer o cenário econômico de seis anos atrás – no fim do apogeu do repeteco do “milagre econômico” brasileiro que o país revive a cada 30 anos, em média.

A nossa história não começou em 2.018, nem tampouco em 2.002, muito menos com o Plano Real de 1.994, ou com a Nova República de 1.985, ou com a Redentora de 1.964, ou com a democracia de 1.946 que embarcando na guerra fria cassou Jorge Amado em 47, ou com o Estado Novo de 1.937, ou com a Revolução Liberal de 1.930, ou com a Velha República dos coronéis do início do século 20, ou com o fim do império em 1.889, ou com o nosso imperador feito aos 16 anos em 1.841, ou com a regência a partir de 1.828, ou com um reino dado por um português em 1.822, ou com a chegada da família real lusitana em 1.808, ou com a inconfidência exilada, comprada e enforcada de 1.789.

Nada desses pontos criaram a nossa história. São pontos que fazem parte da nossa história iniciada por muita degradação, segregação, escravização e colonização. Enquanto não formos capazes de superar nossos traumas estabelecendo justiça para várias injustiças que cometemos, jamais seremos uma nação. Seremos apenas um remendo malfeito nos movendo meramente numa republiqueta, ou num conjunto de províncias paroquianas movidas por máquinas clientelistas. E, pelo visto, estamos muito longe que isso possa acontecer. Então, até lá, seremos o que nós somos: a vergonha da vergonha alheia desavergonhada. Uma pátria apátrida em que seus elos são instrumentos para garantir a submissão, verdadeira base e estrutura que nos assenta em 519 anos de história.

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje

Humberto Azevedo
Jornalista e consultor político
Humberto Azevedo é jornalista profissional, repórter free lancer, consultor político, pedagogo com especialização em docência do ensino superior, além de professor universitário, em Brasília (DF).



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