Postado em 18 de abril de 2020

Lame duck

Autor(a): Humberto Azevedo

Sexta-feira, 17, às 01h50, este jornalista de Brasília escreve sua coluna habitual para o site Alfenas Hoje após encerrar mais um dia, e que dia, de labuta dos acontecimentos políticos da capital federal.

A partir desta data, já não temos mais um governo que possa ser assim denominado. A gestão Bolsonaro acabou de vez. Quinta-feira, 16, foi apenas a data em que se iniciou o que os norte-americanos chamam de lame duck. Por quanto tempo se seguirá assim, não sabemos.

O que temos a partir de agora é só uma figura de linguagem. Um gabinete do caos, do ódio. Nada mais. A exoneração do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, marcou esse fim. Agora colheremos óbitos e mais óbitos.

A substituição do político sul-mato-grossense do DEM pelo carioca Nélson Teich foi só um empurrão neste sentido. Sua política, mesmo que tenha tentado dizer o contrário, será favorável a tudo que negue a ciência. Está sendo colocado naquela cadeira para atuar como um obituarista.

Literalmente estamos vivendo no Brasil uma experiência surreal de um governo que, enfim, como os alemães viveram no período hitlerista, os seus e os nossos piores pesadelos. As vítimas, ao contrário de 80 anos, não serão ciganos, comunistas, deficientes e judeus. Seremos nós próprios brasileiros, sobretudo os mais pobres.

Nesta mesma quinta-feira veio a público uma declaração do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, feita no último dia 4, afirmando a investidores do mercado financeiro “que quando você tem um achatamento maior [da curva de infectados e de mortos por causa do coronavírus], você tem uma recessão maior”. Essa fala diz por si só.

Ao mesmo tempo, o Exército já iniciou um levantamento junto aos municípios brasileiros para saber a capacidade de sepulturas diárias em cada um deles. Essa informação foi tornada pública pelo prefeito de Três Rios (RJ), Josimar Salles (PDT), que mostrou aos seus cidadãos o documento entregue a ele pelo representante do Ministério da Defesa.

Segundo este gestor, “as informações solicitadas são para fins de consolidação e resposta ao Departamento Geral do Pessoal, referente à pandemia covid-19”. Na sequência, o prefeito da cidade fluminense de 101 mil habitantes diz que o recebimento desse documento aponta para uma “possibilidade de um caos na saúde pública”.

Há exatos uma semana atrás na última sexta-feira, 10, o número de mortos causados pelo novo coronavírus no Brasil totalizavam 957 pessoas. Esse número, uma semana depois, aumentou em quase mil registros. Isso porque, conforme o monitoramento realizado pela empresa de tecnologia Microsoft, esse índice na manhã desta sexta-feira, 17, já alcançou 1.947 óbitos causados pelo novo coronavírus.

E o cenário tende a piorar agora que o Ministério da Saúde será controlado por uma visão em que se deve contemplar as demandas além da preservação de vidas.

Alegando que os números oficiais na capital federal estão “controlados”, o governador de Brasília, Ibaneis Rocha (MDB), anunciou que a partir do próximo 3 de maio, a cidade planejada por Juscelino Kubitschek voltará a ter o funcionamento de todo o comércio. Isso porque os 716 casos oficiais e as 20 mortes registrados dão a sensação de que o covid-19 passará ao largo da nossa capital.

As lições de Milão, na Itália, não foram aprendidas. Até parece que a maioria dos médicos sanitaristas e infectologistas que aconselham a todos pelo distanciamento e isolamento social não entendem do que estão falando e solicitando.

As mortes que nesta última semana cresciam, em média, com 140 óbitos diários, tendem a se avolumar num número a partir da próxima semana. Ainda mais, agora, incentivados pelo governo central, de que o vírus que nos ataca enquanto raça humana não passa de um “resfriadinho”.


* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje

Humberto Azevedo
Jornalista e consultor político
Humberto Azevedo é jornalista profissional, repórter free lancer, consultor político, pedagogo com especialização em docência do ensino superior, além de professor universitário, em Brasília (DF).



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