Postado em quinta-feira, 5 de janeiro de 2017
às 13:58
Moradores questionam ciclovia sobre trilhos de trem
Grupo afirma que reativação da linha é oportunidade de turismo e empregos. Prefeitura já fez projeto de ciclovia e alguns trechos estão asfaltados.
Um projeto de mobilidade urbana tem gerado polêmica em Varginha (MG). A linha férrea que cruza a cidade foi uma das mais importantes na ligação entre o Sul de Minas e o Estado de São Paulo e trouxe desenvolvimento pra toda a região. Atualmente, alguns pontos da linha estão sendo cobertos pela prefeitura, que, futuramente, pretende construir também uma ciclovia nos trilhos, só que alguns moradores não gostaram da ideia e gostariam que o trecho fosse preservado.
A linha férrea de Varginha integrava a Estrada de Ferro Muzambinho inaugurada em 1892. A ferrovia, com 200 quilômetros de extensão, ligava o Sul de Minas à cidade de Cruzeiro, no interior de São Paulo. O transporte de passageiros e cargas trouxe desenvolvimento pra região. A linha escoava a produção cafeeira, trigo e trazia também matéria-prima para as empresas.
Eugênio Souza foi o último funcionário ferroviário de Varginha. Foram 12 anos trabalhando como manobrista, um tempo que ele não apaga da memória. "O trem buzinando na cidade era bonito demais, o pessoal tudo parava pra ver o trem. Era uma sensação muito gostosa eu estar na "rabeira" do trem e a buzina lá. Que saudade", lembra.
Abandono
Os trilhos estão abandonados e não há conservação nem no trecho que corta o Centro da cidade. Algumas obras, inclusive da própria prefeitura do município, desconsideram a presença da linha férrea. Uma rua foi asfaltada no último mês e os trilhos foram enterrados na massa asfáltica.
A rede foi privatizada e está sob a responsabilidade da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA). O município afirma que tem autorização da companhia para explorar o trecho. "Esse pedacinho que nós fizemos foi precário, provisório, pra que a gente pudesse evitar ali a proliferação do mosquito da dengue, muita sujeira, muito lixo que foi acumulado ali. Nós fizemos, provisoriamente, uma massa de asfalto muito fininha que a qualquer momento pode ser removida", explica o vice-prefeito, Vérdi Lúcio.
A linha férrea de Varginha integrava a Estrada de Ferro Muzambinho, inaugurada em 1892. Com 200 km de extensão, ligava o Sul de Minas a Cruzeiro (SP). A linha foi a última concessão dada ao Barão de Mauá.
A prefeitura diz ainda que tem um projeto para a construção de uma ciclovia, mas ainda não há previsão pra começar a obra. "O projeto da ciclovia já está pronto, nós estamos agora buscando captar esses recursos para que essa obra possa ser executada. De qualquer forma, os trilhos têm que ser preservados, então, dentro do nosso projeto, será utilizada as áreas dos dois lados da linha em toda a sua extensão", completa o vice-prefeito.
Preservação
O advogado Carlos Cornwall faz parte de um grupo que defende a preservação da ferrovia. Ele acredita que, muito mais que história, os trilhos oferecem novas possibilidades. "Poderia sim ser utilizada não apenas para a questão do turismo, mas até para um trem urbano, uma vez que a ferrovia de Varginha passa dentro ou próximo de 15 bairros."
Uma empresa de fertilizantes da cidade foi a última a deixar de usar o transporte ferroviário em Varginha. No trecho que passa por ela, os trilhos ainda estão conservados. Até seis anos atrás, toda a matéria-prima usada na fabricação de fertilizantes era transportada exclusivamente pelos vagões.
"A logística toda [da empresa] foi montada em torno da linha do trem, então a gente trazia por dia 15 vagões, mais ou menos mil toneladas de matéria-prima, e isso nos ajudava bastante. A gente conseguia escoar nossa importação muito rapidamente", explica o engenheiro agrônomo Nelson Chipichopi, responsável técnico da empresa.
A estrutura para receber os trens foi adaptada e deu lugar aos caminhões, mas os trilhos continuam no local. "Seria um ótimo investimento no transporte férreo, as ferrovias", completa Chipichopi.
Segundo Cornwall, a concessão para a Ferrovia Centro-Atlântica vai até 2026. Com a privatização da linha, ela foi alugada para a empresa, mas depois desse período, os trilhos voltam para a União Federal, que precisa fazer uma nova licitação. O advogado acredita que é preciso ter um debate com a população para o uso da rede.
"Nos lugares que transportava carga e voltou a transportar passageiros, como Bento Gonçalves (RS) e a linha entre Jaguariúna (SP) e Campinas (SP), houve um debate com a socieade através dos empresários, inclusive voltado para o turismo, pra que aquilo realmente criasse emprego, gerasse renda e não deixasse a história. E, no nosso caso, uma história de 125 anos, inclusive foi a última concessão dada ao Barão de Mauá, [não pode terminar] sem debate", finaliza.
G1 Sul de Minas