Postado em 28 de outubro de 2016

Precisamos falar sobre violência obstétrica

Autor(a): Daniela Rosa

Não é um assunto fácil, há os que duvidem que tais práticas ocorram e há ainda aquelas que se descobrem vítimas a partir de relatos de terceiros ou por meio de textos e publicações na imprensa. Textos de denúncia e informação, exatamente o que este texto pretende ser. O fato é que há um tipo de violência que atinge uma parte considerável das mulheres em um momento de bastante vulnerabilidade. Em um momento delicado e ímpar: o parto. E dado ao espaço em que tais fatos ocorrem, falar deles torna-se raro, difícil, mas absolutamente necessário.

 

Parece absurdo imaginar que práticas caracterizadas como violentas ocorram em um momento tão delicado, mas é cada vez maior o número de mulheres que tomam consciência de que o deboche, a omissão dos puxões, os procedimentos forçados e sem explicação, as piadas grosseiras, a falta de auxílio, apoio e esclarecimentos, ou mesmo métodos tidos como “padrão” na atenção a parturiente são, na verdade, violência e podem ser reconhecidos como tal. É cada vez maior o número de pesquisas, publicações e materiais que tem levado adiante a tarefa de divulgar este tipo de ocorrência para que cada vez mais mulheres possam ser poupadas, e para que também um número maior de profissionais tenha condições de questionar e rever práticas comuns.


Uma pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo revelou que 25% das entrevistadas que tiveram seus filhos em partos vaginais sofreram algum tipo de agressão durante o parto. É um número alarmante, mas se considerarmos que o número pode ser ainda maior, uma vez que muitas práticas são consideradas “normais” poderemos estar diante de um percentual alarmante de indivíduos que chegam ao mundo com a marca da violência. E o que é ainda pior, uma violência naturalizada. Mas estamos em um momento importante para que tais casos tornem-se raros, e neste ano, no mês de setembro, o Tribunal de Justiça de São Paulo condenou o Hospital Santa Catarina a indenizar uma mãe que sofreu, em 2008, com este tipo de violência, ao ser submetida à uma manobra conhecida como “manobra de Kristeller”, em que a barriga é fortemente pressionada para “facilitar” a descida do bebê e que no caso da parturiente em questão provocou uma lesão que resultou em incontinência urinária, o que a levou à uma cirurgia para correção.

 

O caso abriu um precedente importante para que estejamos cada vez mais alertas. Mas há ainda um longo caminho que passa pela oferta de informação à gestante, passa pelo respeito às novas reflexões que surgem neste campo e principalmente, passa pelo direito à autonomia da mulher em relação ao próprio corpo. Um percurso ainda no início e que tem na informação e no diálogo dois grandes aliados e duas ferramentas fundamentais. Sigamos conversando!

Daniela Rosa
Cientista Social
Socióloga, Doula, Educadora Perinatal, Facilitadora do aleitamento materno, Consultora Educacional , Coordenadora do Espaço Sankofa-Saberes Compartihados no Município de Alfenas e membro da comissão científica do SIAPARTO (Simpósio Internacional de Parto)

http://www.facebok.com/sankofasaberescompartilhados


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